O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, declarou nesta terça-feira (11) que, apesar de sua proximidade com o ex-mandatário, não desempenhava funções relacionadas à administração pública nem questionava Bolsonaro sobre as discussões ocorridas em reuniões e encontros com autoridades dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo.
Durante seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os ataques ocorridos em 8 de janeiro, quando vândalos invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), Cid explicou que, na prática, sua função como ajudante de ordens era semelhante à de um secretário executivo do ex-presidente.
“Na prática, a função do ajudante de ordem consistia, basicamente, em um serviço de secretariado executivo do ex-presidente”, explicou Cid no início de seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os ataques golpistas do dia 8 de janeiro, quando vândalos invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF).
“No dia a dia das reuniões e agendas do ex-presidente, recepcionávamos os participantes e os direcionávamos ao local desejado, ficando do lado de fora das salas de reunião, sempre à disposição. Não questionávamos o que era tratado nas respectivas agendas e reuniões”, disse o militar.
Cid enfatizou que assumiu a chefia da Ajudância de Ordem da Presidência da República em 2019 por indicação do Comando do Exército e que sua nomeação não teve interferência política. Ele também destacou sua destacada carreira militar de 27 anos. Em seguida, o tenente-coronel mencionou algumas das tarefas que lhe foram atribuídas durante os quatro anos em que serviu a Bolsonaro.
“Execução da agenda; recepção e encaminhamento de pessoas para reuniões; atendimento de ligações e recebimento de correspondências; impressão de documentos; recebimento e entrega de presentes e auxiliar nas atividades particulares e privadas do ex-presidente – almoços, viagens, finanças pessoais etc”, relacionou o militar.
Desde 3 de maio, o ex-ajudante de ordens encontra-se detido sob acusações de ter falsificado cartões de vacinação contra a covid-19, incluindo o de Bolsonaro e de parentes do ex-presidente. Ele também é apontado como um dos articuladores de uma conspiração para reverter o resultado das eleições do ano passado, incluindo planos para uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com as investigações da Polícia Federal, mensagens recuperadas do celular de Cid, com autorização judicial, evidenciam que ele reuniu documentos para embasar juridicamente a execução de um golpe de Estado.
Peritos da Polícia Federal encontraram em seu celular mensagens trocadas com outros militares, que, segundo os parlamentares da CPMI do 8 de Janeiro, reforçam a tese de que o grupo conspirava para realizar um golpe.
Um relatório de investigação da Polícia Federal registra que as mensagens revelam que Cid estava reunindo documentos para dar suporte jurídico a um golpe de Estado, incluindo instruções para declarar estado de sítio diante de “decisões inconstitucionais do STF”.
Por decisão da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), em resposta a um pedido de habeas corpus apresentado pela defesa de Cid, o ex-ajudante de ordens foi obrigado a comparecer à comissão, mas tem o direito de permanecer em silêncio diante de perguntas que possam incriminá-lo. No início de seu depoimento, ele afirmou que iria exercer esse direito.
“Até onde tenho conhecimento, sou investigado pelo Poder Judiciário, especialmente pelo STF, em ao menos oito ações criminais. Entre elas, a suposta falsificação de cartões de vacina; a suposta participação e incitação dos atos de 8 de janeiro e a suposta fraude na [tentativa de] retirada de presentes recebidos pelo ex-presidente. Por este motivo, não poderei esclarecer diversos outros questionamentos que poderiam ser feitos para além do contexto fático [relacionado aos atos golpistas de 8 de janeiro] e, por orientação da minha defesa e com base na ordem do habeas corpus concedida pelo STF, farei uso do meu direito constitucional ao silêncio”, explicou o tenente-coronel.
*Com informações da Agência Brasil.