O Vaticano se prepara para um dos momentos mais importantes da história recente da Igreja Católica. Após o funeral do papa Francisco, o colégio de cardeais se reúne para escolher o novo pontífice em um conclave que promete ser decisivo para os rumos da instituição. A expectativa é grande e alguns nomes já começam a ser apontados como favoritos para assumir o papado.
Com a presença de 133 cardeais eleitores, de um total de 252 membros do colégio, o cenário é composto por diferentes linhas de pensamento e posições teológicas. A tradição recente indica que o novo papa deve sair do próprio corpo de cardeais, embora a eleição de um religioso fora desse grupo ainda seja uma possibilidade teórica. Cada perfil entre os considerados favoritos revela o equilíbrio delicado entre tradição e mudanças na Igreja.
Especialistas que acompanham o cotidiano do Vaticano apontam que seis nomes concentram boa parte das atenções. Entre eles estão representantes de posições ortodoxas e progressistas, refletindo as tensões internas que marcam o catolicismo contemporâneo.
O cardeal Robert Sarah, nascido na Guiné, ocupa atualmente o posto de Prefeito Emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Com 79 anos, é considerado uma voz ortodoxa e contrária às reformas implementadas por papa Francisco. Sarah já expressou críticas a tendências consideradas seculares dentro da Igreja e defendeu o retorno a princípios tradicionais.
Suas posições incluem a oposição à imigração incentivada em nome da fé, ao que chamou de “ideologias ocidentais homossexuais”, e à chamada “ideologia de gênero”. Sarah já declarou que a homossexualidade é incompatível com a natureza humana e vê relações do mesmo sexo como prejudiciais.
Com ampla presença nas redes sociais, o cardeal acumula milhares de seguidores e ganhou notoriedade internacional ao longo dos anos. Em 1979, tornou-se o mais jovem bispo do mundo, aos 34 anos, indicado por João Paulo II.
O italiano Pietro Parolin, atual secretário de Estado do Vaticano, é outro nome cotado. Aos 70 anos, Parolin construiu sua trajetória principalmente no campo diplomático, tendo sido responsável por negociações complexas com China, Israel, Coreia do Norte e Vietnã.
Seu perfil indica disposição para dar continuidade a certas linhas do pontificado anterior, embora sem se afastar completamente de posturas tradicionais. Parolin apoia a comunhão para divorciados em alguns casos, mas mantém posições cautelosas em temas como a ordenação de mulheres e a bênção a casais homoafetivos.
Uma análise feita pela inteligência artificial ChatGPT a pedido da emissora francesa BFMTV indicou que Parolin teria 27,6% de chance de ser escolhido papa, a maior entre os candidatos analisados.
O cardeal filipino Luis Antonio Tagle, de 67 anos, é considerado próximo ao pensamento de papa Francisco. Tagle é visto como defensor da ecologia, da inclusão de fiéis LGBTQIA+ e da comunhão de divorciados em casos específicos. Embora progressista em diversas áreas, ele é contra o aborto e a contracepção.
Outro nome que aparece com força é o do húngaro Péter Erdó, arcebispo de Budapeste, que adota posturas conservadoras em liturgia e doutrina. Erdó rejeita a comunhão para divorciados e a bênção a casais do mesmo sexo, mantendo também uma visão cautelosa sobre imigração.
O cardeal Malcolm Ranjith, do Sri Lanka, é conhecido por suas posições tradicionais e por defender o retorno às práticas litúrgicas mais antigas. Ranjith também manifestou apoio à pena de morte em algumas situações e preserva opiniões firmes sobre a estrutura da Igreja.
Entre os nomes de linha progressista está Matteo Zuppi, arcebispo de Bologna, que defende o acolhimento de fiéis LGBTQIA+ e a democratização da Igreja. Zuppi também realiza atividades de diálogo inter-religioso, promovendo encontros entre cristãos e muçulmanos.
Outro candidato é Anders Arborelius, arcebispo de Estocolmo, convertido ao catolicismo aos 20 anos. Arborelius se opõe ao fim do celibato sacerdotal e à ordenação de mulheres, mas apoia o engajamento da Igreja em temas ambientais e sociais.
Pierbattista Pizzaballa, patriarca de Jerusalém, se destaca pelo equilíbrio entre posições conservadoras e a busca por diálogo. Em 2023, chegou a se oferecer como refém ao Hamas para salvar crianças israelenses, o que ampliou sua visibilidade mundial.
Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa, é outro papável de destaque. Com 65 anos, Besungu defende democratização da Igreja e justiça social, mas se opõe às bênçãos a casais homossexuais e ao celibato opcional para padres.
Willem Eijk, da Holanda, traz um perfil ortodoxo, sendo contra mudanças em práticas tradicionais como a comunhão para divorciados e o uso de anticoncepcionais. Ele também rejeita relações LGBTQIA+, classificando-as como contrárias à criação divina.
Charles Bo, cardeal de Mianmar, alia preocupação social com valores tradicionais. Defende o meio ambiente e a comunhão para divorciados, mas mantém posturas ortodoxas em temas litúrgicos.
O francês Jean-Marc Aveline, atual arcebispo de Marselha, carrega uma história pessoal ligada à migração. Nascido na Argélia, mudou-se ainda criança para a França após a independência do país africano. Sua trajetória marca forte envolvimento com temas sociais e preocupação com imigrantes e exilados.
Entretanto, Aveline também dirige há anos a comunidade Emmanuel, onde foram relatados casos de abusos. A relação com a comunidade é vista com atenção por parte dos eleitores no conclave, embora ele nunca tenha sido pessoalmente implicado nos episódios.
A experiência pastoral e a formação teológica sólida são traços que reforçam sua candidatura como uma opção de equilíbrio.
O cenário da sucessão papal revela a amplitude de visões existentes no interior da Igreja Católica. O novo papa poderá representar tanto uma continuidade com o legado de Francisco quanto uma guinada para rumos mais conservadores ou de renovação mais intensa.
Cada cardeal listado traz em seu perfil uma resposta diferente para os desafios contemporâneos enfrentados pela Igreja. Da inclusão social às tradições litúrgicas, passando por temas como imigração, ecologia e sexualidade, o conclave reflete a complexidade de um mundo em transformação.
A escolha que se aproxima terá impacto não apenas sobre a estrutura interna do Vaticano, mas também sobre o papel da Igreja Católica no cenário global nos próximos anos.