Saúde antes, durante e depois da gravidez

A saúde de uma gestante é extremamente importante, pois não é só uma vida e sim duas vidas que precisa de cuidados. Para se ter uma ideia, todo ano, nos Estados Unidos, cerca de 700 a 900 mulheres morrem de causas relacionadas à gravidez. Essa é a taxa de mortalidade materna mais alta de todos os países ricos, sem contar que ela é ainda maior para mulheres negras.
Publicado em Saúde dia 14/01/2020 por Alan Corrêa

A saúde de uma gestante é extremamente importante, pois não é só uma vida e sim duas vidas que precisa de cuidados. Para se ter uma ideia, todo ano, nos Estados Unidos, cerca de 700 a 900 mulheres morrem de causas relacionadas à gravidez. Essa é a taxa de mortalidade materna mais alta de todos os países ricos, sem contar que ela é ainda maior para mulheres negras.

Mesmo o EUA sendo o país que mais gasta em saúde, as taxa de mortalidade materna aumentou durante a última década, enquanto a de outros países diminuiu.

Qual a causa das mortes?

Algumas das maiores causas da mortalidade materna são: doenças cardiovasculares, hemorragia, pressão alta, que causa convulsões e derrames, coágulos sanguíneos e infecção.

60% das mortes e das complicações graves são consideradas evitáveis
60% das mortes e das complicações graves são consideradas evitáveis

Mas não é só isso, para cada morte, mais de 100 mulheres sofrem uma complicação grave relacionada à gravidez ou ao parto, resultando em mais de 60 mil mulheres, todos os anos, tendo um desses casos.

Se uma mulher em trabalho de parto está com pressão muito alta e a tratamos com a medicação anti-hipertensiva certa, em tempo hábil, podemos evitar um derrame
Se uma mulher em trabalho de parto está com pressão muito alta e a tratamos com a medicação anti-hipertensiva certa, em tempo hábil, podemos evitar um derrame

Entretanto, existem passos concretos e procedimentos padrões que poderiam ser implementados para evitar que maus resultados ocorram, e para que vidas sejam salvas. E isso não exige nenhuma tecnologia sofisticada. Basta apenas que seja aplicado um padrão de atendimento em todos os hospitais.

O que fazer?

A médica Elizabeth Howell conta em uma palestra TED como deveria ser feito um atendimento para evitar alguma complicação.

“Se uma mulher em trabalho de parto está com pressão muito alta e a tratamos com a medicação anti-hipertensiva certa, em tempo hábil, podemos evitar um derrame. Se localizarmos com precisão a perda de sangue durante o parto, podemos detectar uma hemorragia mais cedo e salvar a vida de uma mulher. Poderíamos diminuir as taxas desses eventos catastróficos amanhã, mas isso exige que valorizemos a qualidade dos cuidados que damos à mulher grávida, antes, durante e depois da gravidez. Se elevarmos o nível da qualidade dos cuidados ao padrão esperado, poderemos diminuir as taxas das mortes e das complicações graves.” Disse Elizabeth.

Se localizarmos com precisão a perda de sangue durante o parto, podemos detectar uma hemorragia mais cedo e salvar a vida de uma mulher
Se localizarmos com precisão a perda de sangue durante o parto, podemos detectar uma hemorragia mais cedo e salvar a vida de uma mulher

O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas junto com pesquisadores e organizações comunitárias, desenvolveram um programa chamado Alliance for Innovation in Maternal Health, mais especificamente AIM. O objetivo é diminuir a taxa de mortalidade e morbidade materna através de iniciativas de segurança e qualidade pelo país. O grupo desenvolveu medidas de segurança que têm como alvo as causas mais evitáveis da morte materna. O programa AIM tem atualmente o potencial de atingir mais de 50% dos nascimentos nos EUA. Assim eles esperam implementar práticas de cuidado padronizadas em hospitais e sistemas de saúde do país.

Colocar em prática conhecimento, protocolos, procedimentos, medicações, equipamento e outros itens são algumas medidas básicas de segurança.

A médica Elizabeth Howell conta que: “Para uma hemorragia, um carrinho precisa ter tudo que um médico ou uma enfermeira possa precisar em uma emergência: sistema de administração IV, máscara de oxigênio, medicamentos, listas de verificação e outros equipamentos. Para medir a hemorragia: esponjas e gazes. E, em vez de apenas medir no olho, os médicos e as enfermeiras coletam as esponjas e gazes e pesam cada uma delas, ou usam tecnologia mais recente para medir a quantidade perdida de sangue. Essa medida de segurança também inclui protocolos de crise para tratar a hemorragia e treinamentos regulares.”

Temos que combater os determinantes sociais da saúde se quisermos um sistema de saúde igualitário neste país, muitos dos quais estão enraizados demais para serem solucionados facilmente
Temos que combater os determinantes sociais da saúde se quisermos um sistema de saúde igualitário neste país, muitos dos quais estão enraizados demais para serem solucionados facilmente

A Califórnia é líder no uso desses tipos de medidas e é por isso que aquele estado teve uma redução de 21% em quase morte por hemorragia já no primeiro ano da implementação em hospitais. No entanto, o uso dessas medidas pelo país ainda é inconsistente. Assim como as práticas conhecidas e o ênfase em segurança diferem de um hospital para outro, a qualidade também difere.

O fato é que precisa haver uma alta na qualidade dos cuidados fornecidos. Ou seja, fornecer alta qualidade de cuidados continuamente significa fornecer acesso à contracepção segura e confiável ao longo da vida reprodutiva da mulher. Antes da gravidez, significa fornecer cuidados de preconcepção, para que se possa controlar doenças crônicas e otimizar a saúde. Durante a gravidez, inclui pré-natal de qualidade e cuidados no parto, para que mães e bebês sejam saudáveis. E, depois da gravidez, inclui cuidados pós-parto e entre uma gravidez e outra, para que as mães possam se preparar para ter seu próximo bebê e uma vida saudável.

Por fim, Elizabeth Howell conclui que: “É preciso uma alta qualidade de cuidados oferecida continuamente, e é assim que ela pode ser. Se toda mulher grávida em cada comunidade recebesse esse tipo de cuidado e fizesse o parto em instalações com práticas de cuidado padronizadas, as taxas de mortalidade materna e morbidade materna grave despencariam.”