O Sindicato dos Atores de Hollywood (SAG-AFTRA) anunciou que a categoria entrará em greve a partir da meia-noite desta quinta-feira (horário de Los Angeles) em uma decisão que se soma à paralisação dos roteiristas, em curso desde maio, resultando na maior greve do entretenimento americano desde 1960.
Em uma coletiva de imprensa, a presidente do SAG, Fran Drescher, e o líder das negociações, Duncan Crabtree-Ireland, discutiram a decisão. Eles afirmaram que alguns membros, como atores de comerciais ou audiolivros, ainda poderão continuar suas atividades.
Drescher declarou: “Quando os empregadores priorizam Wall Street e a ganância em vez dos contribuintes essenciais que fazem a máquina funcionar, temos um problema, e é isso que estamos vivenciando no momento.”
Crabtree-Ireland acrescentou: “Este é um momento muito crucial para nós. Eu comecei acreditando seriamente que poderíamos evitar uma greve. A gravidade dessa situação não passou despercebida por mim, pelo nosso comitê de negociação, ou pelos membros do nosso conselho, que votaram unanimemente a favor da greve. É algo muito sério que afeta milhares, senão milhões, de pessoas em todo o país e ao redor do mundo.”
A organização já havia anunciado o fracasso das negociações com os representantes dos estúdios durante a madrugada, após o término do contrato vigente à meia-noite de quarta-feira (12) no horário de Los Angeles. Esse prazo já havia sido estendido em 12 dias no início de julho.
Com 160 mil membros, o Sindicato dos Atores divulgou um comunicado na noite de terça-feira (11), expressando a falta de confiança em que os empresários tinham a intenção de negociar um acordo. Em junho, a organização já havia votado e aprovado a realização de uma greve em caso de fracasso nas negociações.
As negociações se concentraram em melhores salários e outros benefícios, além de regulamentar o uso da inteligência artificial na produção de filmes e programas de televisão, garantindo que as imagens digitais dos atores não sejam recriadas sem autorização.
Essa greve dupla, algo que não acontecia em Hollywood há mais de 60 anos, deve paralisar quase toda a produção cinematográfica e televisiva nos Estados Unidos.
Nesse momento em que a indústria do entretenimento ainda tenta se recuperar dos anos difíceis da pandemia, a paralisação afetará as estrelas, impedindo que elas promovam alguns dos lançamentos de verão altamente aguardados e participem de festivais importantes nos próximos meses, como os de Veneza e Toronto.
A realização do Emmy 2023, prevista para 18 de setembro, também está ameaçada. Antes do anúncio do SAG, a mídia americana já especulava que a premiação poderia ser adiada para novembro de 2023 ou janeiro de 2024.
Os membros do sindicato também ficarão impossibilitados de participar de painéis em eventos culturais. Portanto, a Comic-Con de San Diego, que começará no próximo dia 20, também não contará com a presença de grandes astros.
Na estreia em Londres do novo filme de Christopher Nolan, “Oppenheimer”, os atores compareceram ao tapete vermelho, mas deixaram o evento em solidariedade à decisão do sindicato, que ainda não havia sido anunciada.
A última grande greve em Hollywood, quando os roteiristas paralisaram as atividades entre o final de 2007 e o início de 2008, teve um impacto econômico de cerca de US$ 2 bilhões na Califórnia, de acordo com analistas.
Essa será a primeira vez desde 1960 que atores e roteiristas de Hollywood entrarão em greve simultaneamente. Naquela ocasião, Ronald Reagan, que era ator e futuro presidente dos Estados Unidos, liderou uma ação que obrigou os estúdios a aceitarem concessões.
Os atores também estão pedindo “residuais”, pagamentos feitos toda vez que um filme ou programa no qual eles atuaram é exibido em uma emissora ou na TV a cabo – uma fonte de renda particularmente útil quando os artistas estão envolvidos em vários projetos.
No entanto, atualmente, plataformas como Netflix e Disney+ não divulgam dados de audiência de seus programas e oferecem um valor fixo por tudo que está disponível em seus catálogos, sem levar em consideração a popularidade de uma produção.
Para complicar ainda mais o cenário, há a questão da inteligência artificial. Atores e roteiristas desejam garantias de que seu uso futuro será regulamentado, mas até o momento, os estúdios têm se recusado a ceder.
Em comunicado emitido após o anúncio da greve, a Aliança dos Produtores de Filmes e Televisão (AMPTP) afirmou que o SAG rejeitou várias propostas. Essas propostas incluíam aumentos nos pagamentos mínimos e residuais de exibições internacionais, bem como uma “proposta inovadora de inteligência artificial que protege as imagens digitais dos artistas, incluindo a exigência de consentimento do artista para a criação e uso de réplicas digitais ou para alterações digitais em uma performance.”
Crabtree-Ireland refutou essa versão dos representantes dos estúdios, afirmando: “Eles propuseram que nossos figurantes pudessem ser digitalizados, recebessem o salário por um dia de trabalho, e suas empresas possuiriam essa digitalização, sua imagem, e poderiam usá-la pelo resto da eternidade em qualquer projeto que desejassem. Sem consentimento e sem compensação.”