Como ensinar política usando o jantar em família

É comum encontrarmos por aí jovens dizendo: "Sou muito jovem para me envolver com política ou ter opinião sobre isso", ou então mulheres que dizem: "O mundo da política é sujo, não quero me envolver com isso". O fato é que, não precisa ser necessariamente um ativista declarado para participar da política.
Publicado em Vida dia 14/12/2019 por Alan Corrêa

É comum encontrarmos por aí jovens dizendo: “Sou muito jovem para me envolver com política ou ter opinião sobre isso”, ou então mulheres que dizem: “O mundo da política é sujo, não quero me envolver com isso”. O fato é que, não precisa ser necessariamente um ativista declarado para participar da política.

A política não é só doutrina, é conscientização. É preciso manter-se informado e não só votar nas eleições quanto possível. A política é a ferramenta usada para estruturar uma sociedade, ela governa cada aspecto da vida, e ao deixar de participar dela, você literalmente permite que outros decidam o que pode comer e onde, se pode ter acesso à assistência médica, à educação gratuita, o quanto de impostos paga, quando poderá se aposentar, o quanto receberá de aposentadoria. Outras pessoas também estão decidindo se sua raça e etnia bastam para considerá-lo criminoso. Ou se sua religião e nacionalidade bastam para colocá-lo em uma lista terrorista.

A base inicial da política

Cada parte da política inclui a tomada de decisão, e dentro desse processo deve-se incluir pessoas de diferentes origens, interesses, opiniões, gêneros, crenças, raças, etnias, idades e assim por diante. E todos deveriam ter a mesma oportunidade de contribuir para o processo decisório e de influenciar as decisões que afetarão a vida deles direta ou indiretamente.

Na Líbia, por exemplo, é um país em meio a uma guerra civil, que após 40 anos de um regime autoritário se tornou um cenário onde o engajamento político de mulheres ou jovens não é encorajado e nem possível.

Todos as conferências políticas que ocorreram nos últimos anos lá, até mesmo aqueles promovidos por potências estrangeiras, foi realizados apenas com presença de homens de meia-idade. E eles têm feito leis, políticas, mecanismos para participação política que são baseados nas opiniões, crenças, visões de mundo, sonhos, aspirações desse grupo de pessoas, enquanto todo o resto é mantido fora. No entanto, esse quadro é encontrado em quase todos os restantes dos países.

Acontece que, muitas pessoa, tanto quanto os jovens e mulheres não têm interesse nenhum pela política, por não saberem realmente o que é a política. E diante disso acabam não se importando com a política porque mesmo que se importassem não saberiam como participar.

Para resolver essa situação a ativista Hajer Sharief propôs em uma palestra ministrada por ela para a TED em julho de 2019 que: “Precisamos ensinar às pessoas, quando jovens, sobre a tomada de decisões e como ser parte dela. Toda família é o seu próprio minissistema político, que nem sempre é democrático, porque os pais tomam decisões que afetam todos os membros da família, enquanto as crianças têm muito pouco a dizer. Igualmente, os políticos tomam decisões que afetam a nação inteira, enquanto o povo tem muito pouco a dizer.”

E completa dizendo: “Para alcançar essa mudança sistematicamente, precisamos ensinar às pessoas que assuntos políticos, nacionais e mundiais são tão importantes quanto os pessoais e familiares. Portanto, para que consigamos, proponho e sugiro pôr em prática o sistema de “Reunião Democrática em Família”. Ele possibilitará que seus filhos exercitem a iniciativa e a tomada de decisões desde cedo.”

Nesse caso, se incluírem seus filhos nas conversas em família, eles crescerão e saberão participar das conversas políticas e até mesmo ajudarão outros a se engajarem. Portanto, a política é feita de conversas, incluindo conversas difíceis, que levam a decisões. E, para se ter uma conversa, é necessário participar.