Brasileiros estão deixando a escola, entenda porque

Em 2017, Maria de Fátima Santos, então com 18 anos, partiu de Araioses, no Maranhão, em uma viagem de ônibus que a levou por mais de 2 mil quilômetros até Brasília. Seu objetivo na época era construir uma carreira no comércio e retomar os estudos. Aos 15 anos, Maria de Fátima havia deixado a escola no quinto ano do ensino fundamental para ajudar nas tarefas domésticas.
Publicado em Educação dia 27/05/2023 por Alan Corrêa

Em 2017, Maria de Fátima Santos, então com 18 anos, partiu de Araioses, no Maranhão, em uma viagem de ônibus que a levou por mais de 2 mil quilômetros até Brasília. Seu objetivo na época era construir uma carreira no comércio e retomar os estudos. Aos 15 anos, Maria de Fátima havia deixado a escola no quinto ano do ensino fundamental para ajudar nas tarefas domésticas.

No interior do Maranhão, ela trabalhava como diarista, e a rotina da jovem não deixava espaço para livros nem priorizava a educação. Infelizmente, em Brasília, a possibilidade de frequentar a escola tornou-se apenas um sonho distante. Agora, aproximando-se dos 25 anos de idade, ela depende da coleta de objetos nos condomínios para obter algum recurso financeiro, pagar o aluguel e enviar pelo menos R$ 50 para sua mãe, que permaneceu em Araioses.

A maranhense Maria de Fátima Santos teve de deixar os estudos aos 15 anos para trabalhar (Luiz Claudio Ferreira)
A maranhense Maria de Fátima Santos teve de deixar os estudos aos 15 anos para trabalhar (Luiz Claudio Ferreira)

Maria de Fátima expressa saudade das aulas de matemática na escola, reconhecendo que teria sido útil para sua vida atual. Infelizmente, deixar a escola durante a juventude não é incomum no Brasil, como apontado por uma pesquisa conduzida pelo Sesi/Senai em parceria com o Instituto FSB Pesquisa. Apenas 15% dos jovens com mais de 16 anos estão matriculados em salas de aula.

”Os dados são fortes. Só 15% da população atualmente estuda. É claro que, na idade escolar, o número sobe para 53%”, afirmou o diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi.

Entre aqueles que não estão estudando, 57% mencionaram a falta de condições como motivo para abandonar a escola. A necessidade de trabalhar é o principal motivo (47%) para interromper os estudos.

“Um número muito alto de pessoas deixa de estudar por falta de interesse na escola que, muitas vezes, não tem elementos de atratividade para os jovens e certamente esses números se agravaram durante a pandemia”, afirmou Lucchesi.

A pesquisa também revelou que apenas 38% das pessoas com mais de 16 anos que não estão estudando alcançaram o nível de escolaridade que desejavam.

Para 18% dos jovens entre 16 e 24 anos, a gravidez ou o nascimento de um filho são as razões para deixar de estudar. A evasão escolar por causa da gravidez ou chegada de um filho é mais comum entre mulheres (13%), residentes do Nordeste (14%) e das capitais (14%) – o dobro da média nacional de 7%.

O levantamento também revela que a maioria dos jovens acima de 16 anos considera que a maioria dos indivíduos com ensino médio ou superior se considera pouco ou mal preparada para o mercado de trabalho.

A pesquisa foi realizada com uma amostra de 2.007 cidadãos com 16 anos ou mais, abrangendo as 27 unidades federativas. As entrevistas foram realizadas entre 8 e 12 de dezembro do ano passado.

Entre os entrevistados, 23% acreditam que a alfabetização deveria ser uma prioridade do governo, seguida pela criação de creches (16%) e pela ênfase no ensino médio (15%).

A qualidade da educação pública é considerada boa ou ótima por 30% da população, enquanto a educação privada recebe essa avaliação de 50% dos entrevistados.

Quanto aos fatores para melhorar a qualidade, os mais mencionados são o aumento dos salários dos professores, maior capacitação e melhores condições das escolas.

Pelo menos 23% dos entrevistados avaliaram a educação pública como ruim ou péssima, enquanto apenas 30% a consideraram ótima ou boa. A educação privada recebeu avaliações positivas de 50% dos participantes.

Segundo Rafael Lucchesi, essa pesquisa traz uma reflexão necessária sobre a melhoria da qualidade da educação e a atratividade da escola, visando “como resultado geral, melhorar a produtividade das pessoas na sociedade”.

*Com informações da Agência Brasil.