Revelações do Hacker Walter Delgatti Netto na CPMI são chocantes

Na manhã desta quinta-feira (17), o hacker Walter Delgatti Netto prestou depoimento diante da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os eventos ocorridos em 8 de janeiro, marcados por atos golpistas. Em suas declarações, Delgatti Netto expôs os motivos por trás da invasão que efetuou nos sistemas internos (intranet) do Poder Judiciário brasileiro.
Publicado em Notícias dia 17/08/2023 por Alan Corrêa

Na manhã desta quinta-feira (17), o hacker Walter Delgatti Netto prestou depoimento diante da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os eventos ocorridos em 8 de janeiro, marcados por atos golpistas. Em suas declarações, Delgatti Netto expôs os motivos por trás da invasão que efetuou nos sistemas internos (intranet) do Poder Judiciário brasileiro.

Indagado pela relatora da CPMI, deputada Eliziane Gama (PSD-MA), sobre os propósitos subjacentes à sua ação, Delgatti Netto afirmou que sua intenção era desacreditar o prestígio do Poder Judiciário, um dos pilares fundamentais da República. O hacker destacou que sua motivação emergiu, em parte, das afirmações do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de que o sistema era inviolável. Delgatti Netto via nessa vulnerabilidade a oportunidade de demonstrar a fragilidade da Justiça brasileira.

“Uma forma de mostrar a fragilidade seria o quê? Eu invadindo e despachando, como se fosse o ministro, com o token (dispositivo gerador de senha) dele, a assinatura dele, um mandado de prisão contra ele mesmo. Inclusive, no final, eu falo: publique-se, intime-se e faça o L”, destacou.

O termo “fazer o L” remete ao gesto realizado por eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, simbolizando seu apoio ao líder político. O mandado de prisão falso foi inserido no sistema em 5 de janeiro, às vésperas dos eventos de cunho golpista.

O depoimento de Delgatti Netto também revelou a colaboração do deputado federal Carla Zambelli (PL-SP) no caso. Segundo ele, Zambelli forneceu um rascunho do pedido de prisão de Moraes, que ele então revisou, acrescentando contexto e o publicando. Além do mandado de prisão, o hacker inseriu um requerimento de quebra de sigilo bancário do magistrado.

Delgatti Netto, conhecido por sua invasão aos celulares de procuradores da Lava Jato, compartilhou que teve acesso à intranet do sistema judiciário por um período de quatro meses. “Eu tive acesso a todos os processos, a todas as senhas, de todos os juízes e servidores, e fiquei por quatro meses na intranet da Justiça brasileira”, afirmou.

“(Ele) se negou a pegar a segunda via do chip, porque, a época, o Alexandre de Moraes estava o tempo todo na mídia, mandando prender todo mundo. Então, ele ficou com medo”, disse Delgatti, acrescentando que o dinheiro do suborno havia sido prometido a ele pela deputada Zambelli.

O hacker também afirmou ter obtido acesso ao e-mail do ministro Alexandre de Moraes, bem como ao número de recuperação de senha do magistrado. Na tentativa de obter uma segunda cópia do chip do celular de Moraes, ele buscou subornar um funcionário de uma empresa de telefonia, oferecendo R$ 10 mil. Tal medida visava contornar a necessidade de confirmação de acesso via telefone celular, que ocorre quando se entra em um e-mail de um novo dispositivo.

Delgatti Netto elucidou que o funcionário se recusou a prosseguir com o esquema, devido à exposição midiática constante do ministro Moraes e sua atuação judicial vigorosa. O depoente acrescentou que a promessa de financiamento dessa empreitada ilegal provinha da deputada Zambelli.

Preso em 8 de agosto pela Polícia Federal, Delgatti Netto enfrenta acusações de invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e de outros tribunais, além de emitir um mandado de prisão fictício contra o ministro Alexandre de Moraes.

Ele afirmou ter agido a pedido de Carla Zambelli, que teria mencionado que a invasão dos sistemas judiciais fora uma solicitação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo ele, Zambelli alegou a necessidade de demonstrar a fragilidade do sistema judiciário.

A motivação por trás do ato criminoso, conforme a declaração de Delgatti Netto, teria sido uma promessa de emprego feita por Zambelli. Diante da falta de concretização desse compromisso, ele procurou dinheiro adiantado para cobrir suas despesas. Ele alega ter recebido um total de R$ 40 mil. A parlamentar, por sua vez, negou quaisquer irregularidades, declarando que o hacker havia sido contratado para administrar suas redes sociais.

Em nota divulgada na tarde de hoje, o advogado Daniel Bialski, que defende Zambelli, “refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas e ou imorais pela parlamentar, inclusive, negando as aleivosias e teratologias mencionadas pelo senhor Walter Delgatti”

*Com informações da Agência Brasil.