Novo Campus do ITA Fortaleza: Potencial para Retenção de Talentos

A instalação de uma unidade do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em Fortaleza, no Ceará, está prestes a impulsionar o desenvolvimento tecnológico de toda a região Nordeste e contribuir para um maior equilíbrio no desenvolvimento do país, afirma Suzeley Kalil, pesquisadora e professora da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas.
Publicado em Educação dia 8/10/2023 por Alan Corrêa

A instalação de uma unidade do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em Fortaleza, no Ceará, está prestes a impulsionar o desenvolvimento tecnológico de toda a região Nordeste e contribuir para um maior equilíbrio no desenvolvimento do país, afirma Suzeley Kalil, pesquisadora e professora da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas.

“A chegada do ITA traz consigo a promessa de desenvolvimento, semelhante à que ocorreu quando o instituto foi implantado em São José dos Campos (SP), tornando-se um polo atrativo para empresas de alta tecnologia. No entanto, ao examinarmos outros centros educacionais, percebemos que não é apenas o ITA em si, mas a presença de centros de pesquisa altamente complexos que impulsiona o desenvolvimento. Portanto, a instalação de qualquer centro de pesquisa no Nordeste é de suma importância, não apenas para o avanço regional, mas também para promover um equilíbrio mais amplo no desenvolvimento do país”, acrescentou.

História

A primeira escola de formação de engenheiros aeronáuticos do Brasil surgiu em 1950 na cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo. O ITA é amplamente reconhecido como uma instituição de excelência no ensino de engenharia no Brasil, sendo uma instituição universitária pública vinculada ao Comando da Aeronáutica.

Atualmente, o ITA oferece seis cursos de graduação em sua unidade original, e agora está se expandindo para o Nordeste, conforme anunciado recentemente pelo governo federal. Essa nova unidade se concentrará em cursos relacionados a estudos de energia.

Segundo a professora, a criação da unidade do ITA no Ceará pode ter sido impulsionada pela significativa aprovação de estudantes do estado nas vagas oferecidas pelo instituto. Um levantamento do ITA revelou que mais de 36% dos aprovados na instituição haviam estudado em Fortaleza.

“Eu acredito que esse fator tenha influenciado a decisão do governo de estabelecer uma nova unidade, embora não seja a única razão. É provável que tenha havido uma demanda do próprio estado do Ceará nessa direção. Além disso, a expressiva votação do presidente Lula na região também pode ter tido peso. É importante lembrar que os governos anteriores de Lula e Dilma Rousseff alimentaram a visão de um desenvolvimento mais equitativo e uma educação mais distribuída em todo o país”, disse ela.

Outro motivo que poderia explicar a instalação do ITA no Ceará, de acordo com Suzeley, é que o idealizador e construtor original do ITA, Casimiro Montenegro, era natural do Ceará.

Um dos alunos cearenses aprovados no ITA foi Leonardo Bruno Pedroza Lima. Hoje, ele ensina Física e supervisiona o Colégio Ari de Sá Cavalcante, em Fortaleza, que oferece turmas voltadas para a preparação para o vestibular do ITA e do Instituto Militar de Engenharia (IME).

“Sou engenheiro de computação formado pelo ITA. Sou cearense e me preparei para o ITA na escola onde trabalho atualmente, o Colégio Ari de Sá. É uma grande satisfação poder ajudar outras pessoas a realizar o sonho de ingressar no ITA”, disse ele em entrevista à Agência Brasil.

De acordo com Leonardo, as turmas preparatórias para o vestibular do ITA e do IME no Colégio Ari de Sá Cavalcante são muito procuradas e atraem cerca de 350 alunos a cada ano. Além desse colégio, há muitos outros cursos preparatórios voltados para o ITA na região Nordeste. Ele acredita que esse mercado crescerá ainda mais nos próximos anos, caso a nova unidade do instituto seja de fato instalada no Ceará.

“Existem cursos específicos para a preparação do vestibular do ITA em Fortaleza, Teresina, Recife e Salvador. Em Fortaleza, sete escolas oferecem turmas específicas para o vestibular do ITA. Na região Sudeste, o principal curso preparatório para o ITA está localizado em São José dos Campos (SP), na mesma cidade onde está o ITA. Tudo indica que a instalação de uma unidade do ITA aqui no Ceará fará com que esse mercado cresça ainda mais”, disse ele.

Para o professor e supervisor do cursinho preparatório para o ITA, a instalação de uma unidade no Ceará também pode ajudar a reter talentos na região.

“Uma parcela significativa de nossas mentes mais brilhantes é enviada para São Paulo e, após a formação, acaba sendo absorvida pelo mercado de trabalho do Sudeste. Com um ITA aqui no Ceará, na região Nordeste, certamente teremos mais chances de reter esses talentos e criar condições para que eles contribuam para o desenvolvimento regional, engajando-se nos desafios da região e explorando o potencial do Nordeste, como a indústria de energias renováveis”, opinou.

Em setembro, durante a visita do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, o reitor do ITA, Anderson Ribeiro Correia, também destacou o impacto positivo que a nova unidade poderá trazer para a região. “Será uma oportunidade de reter mentes brilhantes que, historicamente, têm sido aprovadas nos vestibulares do ITA, e usá-las para contribuir com o desenvolvimento regional”, disse ele na ocasião.

Modelo avançado

Suzeley Kalil afirmou que o modelo de educação proposto pelo ITA, que combina a formação de engenheiros militares e civis, é avançado, mas raro em todo o mundo.

“O ITA traz consigo uma visão de desenvolvimento muito particular, que busca a autonomia do país e tem o Estado como seu grande pilar. Essa visão contrasta com a concepção liberal predominante no Brasil. O intervalo entre a inauguração do ITA no Sudeste e no Nordeste está fundamentalmente relacionado a uma visão negativa do país – a ideia de que o Brasil deve se limitar à produção de commodities – e preconceitos em relação ao seu povo – a crença de que os brasileiros são preguiçosos e apáticos”, avaliou.

Para ela, o ITA não deve ser visto como uma instituição militar, mas como um centro de pesquisa que poderia servir de exemplo para o país.

“A educação militar deveria seguir o modelo do ITA, ou seja, defendo que não deveria haver apenas escolas para a formação de oficiais das Forças Armadas, mas escolas que formem cidadãos e academias de tempo parcial para o treinamento militar específico. Portanto, acredito que se tivéssemos mais escolas como o ITA, não teríamos Forças Armadas isoladas da sociedade, como ocorre atualmente”, disse ela. E concluiu: “As escolas militares são fontes de autonomia militar, gerando militares que acreditam que sua missão é proteger a sociedade”.

*Com informações da Agência Brasil.