Nana Caymmi, uma das intérpretes mais emblemáticas da música brasileira, morreu nesta quinta-feira (1º), aos 84 anos, no Rio de Janeiro. Ela estava internada desde agosto do ano passado na Casa de Saúde São José, localizada no Humaitá, para tratar uma arritmia cardíaca que exigiu cuidados prolongados. Seu irmão, Danilo Caymmi, descreveu o período como de sofrimento intenso, com a artista enfrentando grandes dificuldades ao longo da internação.
Pontos Principais:
Nascida Dinahir Tostes Caymmi em 1941, a cantora completou 84 anos dois dias antes de falecer. Filha de Dorival Caymmi e Stella Maris, cresceu em meio a referências musicais, ao lado dos irmãos músicos Danilo e Dori. Seu primeiro registro foi um dueto com o pai na canção “Acalanto”, composta especialmente para ela. Nana também viveu por um período na Venezuela, onde se casou e teve suas primeiras filhas, antes de retornar ao Brasil grávida de seu terceiro filho, fruto de sua relação com João Gilberto.
Na década de 1960, firmou-se como nome importante da música popular brasileira, interpretando composições de grandes autores como Tom Jobim, Milton Nascimento, Vinicius de Moraes e Roberto Carlos. Em 1964, participou do disco “Caymmi visita Tom e leva seus filhos Nana, Dori e Danilo”, sucesso dentro e fora do Brasil. Dois anos depois, enfrentou um público hostil no Festival Internacional da Canção ao interpretar “Saveiros”, de Dori Caymmi, mas venceu a competição.
Com uma carreira sólida e marcada pela seleção criteriosa de repertório, Nana lançou discos importantes como “Renascer” (1976), “Voz e Suor” (1983), “Bolero” (1993) e “A noite do meu bem” (1994), homenageando Dolores Duran. Trabalhou com produtores como José Milton e dividiu projetos com músicos como Cesar Camargo Mariano. Mesmo com perfil mais discreto, suas interpretações sempre foram reconhecidas pela profundidade e refinamento.
A voz de Nana ultrapassou os palcos e chegou à televisão. Em 1998, ela foi destaque na abertura da minissérie “Hilda Furacão”, com a música “Resposta ao tempo”, escrita por Cristovão Bastos e Aldir Blanc. Ao longo das décadas, sua discografia incluiu homenagens ao pai Dorival e a nomes como Tito Madi e Tom Jobim. Seus últimos trabalhos foram “Nana Caymmi Canta Tito Madi” (2019) e “Nana, Tom, Vinicius” (2020), reafirmando seu vínculo com a tradição musical brasileira.
Apesar de nunca ter alcançado a popularidade de colegas como Elis Regina ou Gal Costa, Nana construiu uma trajetória respeitada, elogiada por críticos como Mauro Ferreira, que destacou sua capacidade de emocionar sem recorrer a exageros cênicos. Seu talento foi reconhecido com homenagens como o título de cidadã baiana, concedido a ela e aos irmãos em 2004, e sua presença é sentida em trilhas sonoras, discos históricos e interpretações eternizadas na memória coletiva.
Além da vida profissional, Nana teve relacionamentos marcantes, incluindo casamentos com um médico venezuelano e com Gilberto Gil, além de namoros com João Donato e Cláudio Nucci. Deixa três filhos e duas netas. Sua partida representa o fim de uma era em que a interpretação era conduzida com elegância, emoção e uma voz moldada pelo tempo, pela vivência e pela música que sempre a cercou.
Fonte: G1.