A técnica de manicure conhecida como “russa” vem ganhando espaço no Brasil e no mundo, não apenas por seu acabamento preciso, mas também pelo modo como altera a forma tradicional de cuidar das unhas. Apesar de ter se tornado comum em salões de beleza e estúdios especializados, o método ainda é alvo de discussões entre especialistas em saúde, principalmente dermatologistas. A técnica é difundida por profissionais que afirmam alcançar durabilidade superior e um resultado mais limpo.
Pontos Principais:
No entanto, o que circula nas redes sociais nem sempre corresponde ao que dizem os órgãos oficiais. Embora o método exista há bastante tempo na Europa e nos Estados Unidos, o uso do micromotor para remoção completa da cutícula não é unanimidade. O processo, muitas vezes confundido com procedimentos de embelezamento com gel, segue uma lógica completamente diferente, focada na preparação da unha natural.
O crescimento da técnica também levanta um ponto importante: a formação dos profissionais. Muitos cursos rápidos ensinam o uso da lixadeira elétrica, mas nem todos oferecem conhecimento sobre biossegurança, estruturas da pele e cuidados com a matriz ungueal. O que para alguns parece apenas uma tendência estética, para outros é um campo que exige regulamentação mais rigorosa.
A manicure russa substitui o alicate tradicional por uma ferramenta elétrica chamada micromotor. Essa ferramenta permite esculpir, polir e remover a cutícula com precisão, por meio de brocas específicas para cada etapa. Ao final, o esmalte, geralmente em gel, é aplicado milimetricamente rente à pele, criando o efeito de unha recém-feita por mais tempo.
Essa técnica demanda conhecimento técnico sobre pressão, angulação e velocidade da rotação das brocas. O uso incorreto pode causar danos à matriz da unha, sangramentos e inflamações. Por isso, a capacitação do profissional se torna essencial, ainda que não seja exigida formalmente em todos os lugares onde a prática é oferecida.
Além do micromotor, a manicure russa utiliza uma sequência de brocas específicas, lixas manuais, espátulas e pincéis de precisão. O resultado depende da integração correta de cada ferramenta ao longo do procedimento.
Na manicure tradicional brasileira, a cutícula é retirada com alicate, o formato da unha é moldado com lixa manual e o esmalte costuma ser aplicado respeitando uma pequena distância da pele. A técnica russa modifica esses padrões ao unir equipamentos elétricos a uma lógica de esmaltação próxima à epiderme.
Essa aproximação tem implicações. A cutícula, que age como uma barreira protetora contra micro-organismos, é completamente removida, o que, segundo dermatologistas, pode facilitar a entrada de bactérias e fungos. Além disso, a ausência de corte direto reduz a inflamação imediata, mas não elimina a possibilidade de exposição a infecções.
O formato das unhas também tende a ser mais personalizado na manicure russa. O método adapta a curvatura, espessura e superfície ao estilo de cada pessoa, promovendo um resultado mais ajustado ao perfil da unha natural.
A Sociedade Americana de Dermatologia alerta para os perigos da remoção completa das cutículas. A orientação é não cortar, mas sim empurrar com cuidado e manter a região hidratada. A função da cutícula é impedir que agentes externos entrem em contato com a matriz da unha.
Há países onde a prática de remoção da cutícula com instrumentos cortantes ou abrasivos é ilegal, justamente pelos riscos sanitários. A abrasão causada pelo micromotor, mesmo sem corte, pode comprometer a pele ao redor da unha, criando fissuras microscópicas que favorecem infecções.
A manicure russa, quando mal executada, pode também afetar o crescimento da unha. Pressão excessiva sobre a matriz pode causar deformações permanentes, que se manifestam semanas depois do procedimento.
A manutenção da manicure russa é recomendada a cada três semanas. Durante esse período, é necessário manter as unhas hidratadas, evitando o ressecamento causado pelo esmalte em gel. A remoção do produto deve ser feita por um profissional, com solventes apropriados.
Remover o esmalte puxando com as mãos, como mostrado em vídeos caseiros, pode comprometer a lâmina ungueal. O gel, ao endurecer, adere com força à unha, e sua retirada incorreta provoca descamação e enfraquecimento.
Hidratar as cutículas com óleos específicos, evitar produtos agressivos de limpeza e não lixar as unhas em casa são práticas recomendadas para preservar o resultado e a saúde da unha ao longo do tempo.
A técnica pode ser realizada por qualquer pessoa, desde que não haja infecções ativas nas unhas ou sinais de fungos. Em casos como esses, o ideal é procurar um dermatologista antes de iniciar qualquer tipo de procedimento estético.
Gestantes e pessoas imunossuprimidas devem redobrar os cuidados. A remoção da cutícula, mesmo sem sangramento aparente, pode abrir caminho para infecções oportunistas. O ambiente também precisa ser esterilizado adequadamente entre uma cliente e outra.
Profissionais devem observar sinais de fragilidade nas unhas, como esfarelamento, descamação e manchas, que indicam a necessidade de tratamento antes da aplicação da manicure russa.
Com a popularização da técnica, o mercado de produtos voltados para a manicure russa cresceu. Existem micromotores profissionais que custam entre R$ 150 e R$ 700, além de brocas específicas, óleos nutritivos e esmaltes em gel com fórmulas mais resistentes.
Entre os itens mais vendidos estão:
A variedade de marcas também aumentou, com empresas nacionais e importadas disputando espaço em e-commerces e lojas especializadas.
A disseminação da manicure russa ocorreu principalmente por meio de vídeos no TikTok, Instagram e YouTube. O foco das produções está no “antes e depois”, destacando a aparência uniforme e polida das unhas.
Entretanto, muitas vezes esses conteúdos não alertam para os cuidados exigidos nem mencionam os riscos associados à técnica. Isso contribui para uma banalização do procedimento, tratado como simples e replicável, mesmo sem formação adequada.
O número crescente de cursos rápidos online também alimenta esse cenário, ao oferecer certificações sem validação técnica ou reconhecimento por órgãos de classe.
Atualmente, a profissão de manicure não exige formação superior, mas há cursos técnicos e livres que oferecem especialização. No caso da manicure russa, o ideal seria que os profissionais tivessem conhecimento básico em anatomia da pele, primeiros socorros e biossegurança.
A ausência de regulamentação específica para a técnica pode expor tanto profissionais quanto clientes. Normas sanitárias locais devem ser seguidas rigorosamente, especialmente em relação à esterilização de instrumentos e descarte de materiais.
O avanço da técnica exige também uma atuação mais presente das autoridades de saúde, que ainda não possuem normativas claras para o uso de ferramentas elétricas em procedimentos estéticos.
Fonte: Seleções Reader’s Digest e Belezanaweb.