A segurança no trânsito nem sempre foi prioridade entre as montadoras. Na década de 1950, acidentes automobilísticos geravam números alarmantes de vítimas, e poucas soluções efetivas estavam disponíveis. A Volvo, marca sueca, decidiu mudar essa realidade de maneira revolucionária. Ao contratar o engenheiro Nils Bohlin, especialista em assentos ejetáveis para aeronaves, a empresa deu início a uma transformação histórica no conceito de segurança veicular.
Pontos Principais:
Até aquele momento, os cintos de segurança que existiam eram rudimentares e ineficazes. Os modelos abdominais, comuns na época, limitavam a proteção e, em alguns casos, agravavam os ferimentos durante colisões. Outra tentativa foi o cinto em formato de “Y”, que unia tiras diagonais e abdominais, mas o desconforto e o risco de lesões internas mostraram que era preciso algo mais eficaz, simples e confiável para o uso diário.

A missão de Bohlin era clara: criar um sistema de segurança capaz de proteger os ocupantes de um veículo sem exigir grande esforço para ser usado. Sua solução foi baseada em um conceito simples, porém brilhante: apoiar o cinto nos ombros, na caixa torácica e no osso pélvico, as regiões mais fortes do corpo humano. A fixação em três pontos formava um V, permitindo que o ocupante usasse uma única mão para puxar, posicionar e prender o cinto.
A inovação foi concluída rapidamente e, sem esperar pela aprovação oficial da patente, a Volvo começou a instalar o cinto de três pontos em seus modelos PV544 e P120 ainda em 1959. A decisão estratégica da montadora foi impulsionada pela consciência de que salvar vidas era mais urgente do que registrar lucros ou deter exclusividade comercial sobre a invenção.
Em 1962, a patente do cinto de três pontos foi formalizada, mas a Volvo fez algo incomum: disponibilizou a tecnologia gratuitamente para todas as outras montadoras. A marca abriu mão de potenciais bilhões em royalties para garantir que o dispositivo salvasse o máximo possível de vidas ao redor do mundo, solidificando sua reputação como pioneira em responsabilidade social corporativa.
O impacto da introdução do cinto de três pontos foi imediato. Estudos na Suécia comprovaram que o número de mortes e ferimentos graves em acidentes de trânsito diminuiu em cerca de 45% nos primeiros anos após a implementação. Os números respaldaram a decisão da Volvo e impulsionaram legislações que, posteriormente, tornaram o uso do cinto obrigatório em diversos países.
Com o passar das décadas, o cinto de segurança de três pontos tornou-se um componente padrão em veículos do mundo todo. Estima-se que, desde sua criação até hoje, essa invenção tenha salvado mais de 1 milhão de vidas, um feito impressionante que se tornou um verdadeiro divisor de águas para a segurança viária global.
A Volvo continuou a liderar o setor em inovações de segurança automotiva. Airbags múltiplos, sistemas de frenagem automática de emergência, alertas de colisão e tecnologias de direção semiautônoma são apenas algumas das soluções que nasceram do mesmo espírito inovador que levou Bohlin a redesenhar o conceito de proteção no trânsito.
A importância do gesto da Volvo em liberar a patente ainda é citada como exemplo de ética e compromisso com a sociedade. Em um mundo empresarial frequentemente pautado por interesses financeiros, a atitude da marca sueca se destaca como um modelo de responsabilidade, mostrando que priorizar o bem-estar coletivo pode gerar um legado ainda mais duradouro do que qualquer benefício econômico imediato.
O cinto de três pontos não é apenas uma inovação tecnológica; é uma mudança de paradigma que transcendeu seu tempo. A cada vez que um motorista afivela o cinto, repete o gesto de proteção imaginado por Bohlin, ecoando uma história de coragem, inovação e respeito pela vida humana que continua a inspirar gerações.
Fonte: Carro.Blog.Br, Volvocars e Jovempan.
