Shoppings vão acabar no Brasil? Entenda a polêmica

O cenário do varejo brasileiro continua a enfrentar turbulências, conforme indicado por uma pesquisa recente realizada por analistas do Bank of America (Bofa). O mês de agosto de 2023 foi particularmente sombrio, com o fechamento de 127 lojas em shopping centers em todo o país, superando as 82 inaugurações registradas em julho.
Publicado em Negócios dia 2/10/2023 por Alan Corrêa

O cenário do varejo brasileiro continua a enfrentar turbulências, conforme indicado por uma pesquisa recente realizada por analistas do Bank of America (Bofa). O mês de agosto de 2023 foi particularmente sombrio, com o fechamento de 127 lojas em shopping centers em todo o país, superando as 82 inaugurações registradas em julho.

Essa tendência preocupante sugere desafios significativos para muitas empresas de varejo, especialmente aquelas que lutam para se reorganizar em meio a altos níveis de endividamento.

O Terceiro Trimestre: Um Saldo Negativo de 45 Lojas

Com base nos dados disponíveis até agosto, o terceiro trimestre deste ano fechou com um saldo negativo de 45 lojas. Vale destacar que os números de setembro ainda não foram divulgados, deixando incertezas sobre a continuação dessa tendência preocupante. Os dados apresentados na pesquisa do Bofa são líquidos, ou seja, representam o saldo final de aberturas e fechamentos de lojas durante o período analisado. A pesquisa abrangeu um amplo espectro de 146 shopping centers em todo o Brasil, que juntos abrigam cerca de 28 mil lojas.

Polishop: Liderando os Fechamentos

A empresa Polishop se destacou como a líder no fechamento de lojas em agosto, com um total de nove unidades encerradas. A Polishop tem passado por um árduo processo de reestruturação devido aos impactos severos da pandemia, incluindo quedas nas vendas, atrasos nos pagamentos de aluguéis e despejos. Até agosto, a Polishop já havia fechado 22 unidades em shopping centers, de acordo com o relatório do Bofa.

Triton, Puket, Ponto e Imaginarium: Setores em Dificuldades

Em segundo lugar na lista de varejistas que mais fecharam lojas em agosto, ficaram Triton, Puket, Ponto e Imaginarium, cada uma encerrando cinco lojas. Isso sinaliza dificuldades enfrentadas por varejistas dos setores de roupas e eletroeletrônicos. É importante notar que a Puket e a Ponto não haviam registrado fechamentos de unidades ao longo do ano até agosto. A Imaginarium e a Puket fazem parte da Uni.co, que pertence à Lojas Americanas, e estão passando por um processo de reestruturação. Além disso, a Lojas Americanas está sob investigação devido a uma fraude que inflou seus resultados em aproximadamente R$ 25 bilhões.

O Ponto, anteriormente conhecido como Ponto Frio e parte do Grupo Casas Bahia, também está em um processo de reorganização e anunciou planos de fechar de 50 a 100 lojas para melhorar seus indicadores financeiros. O presidente do Grupo Casas Bahia, Renato Franklin, destacou que o fechamento de lojas deficitárias é um passo crucial para liberar recursos, com a expectativa de liberar até R$ 1 bilhão em estoques. A empresa está enfrentando desafios devido a uma estratégia de expansão em um momento em que os juros estavam baixos, resultando em vendas fracas e dívidas elevadas com a atual alta da taxa Selic e o aperto no orçamento dos consumidores.

Impacto Geral no Setor

Outras empresas também enfrentaram desafios significativos até agosto. Ri Happy e Marisa fecharam oito lojas cada, enquanto a Tok&Stok encerrou 11 unidades. Essas varejistas também passaram por períodos de reestruturação e renegociação de passivos. A Marisa, por exemplo, fechou mais de 80 lojas até julho, anunciando o fim da reestruturação. A Ri Happy conseguiu recentemente renegociar suas dívidas. A Tok&Stok, por sua vez, recebeu um novo aporte do fundo Carlyle e refinanciou seu passivo após uma ameaça de falência em abril devido a uma dívida de R$ 3,8 milhões. Além disso, a varejista está em negociações com a Mobly para uma possível operação de fusão e aquisição.

Inaugurações: Alguns Destaques Positivos

Apesar das dificuldades, algumas empresas continuaram a expandir em agosto. Criatiff (moda) e Milky Moo (fast food) lideraram as inaugurações, com quatro novas unidades cada. No acumulado do ano, algumas das empresas que mais abriram unidades incluem Milky Moo, Fini (doces), Bagaggio (bolsas e mochilas), Life By Vivara (joias) e Natura (cosméticos).

Impacto nos Shopping Centers

A pesquisa do Bofa focou nos empreendimentos das nove maiores empresas do setor de shopping centers no Brasil, incluindo Multiplan, Iguatemi, Allos (novo nome da Aliansce Sonae após a fusão com a BrMalls), Ancar Ivanhoe, Almeida Junior, Gazit, JHSF, JCPM e Syn. Segundo o relatório, Aliansce e BrMalls lideraram os fechamentos em agosto, com 85 e 45 lojas fechadas, respectivamente.

O novo grupo resultante da fusão que deu origem à Allos contabilizou a saída de 130 lojistas, tornando-se o principal ponto de evasão no setor no mês. Os shoppings do grupo no Rio de Janeiro, incluindo Bangu, Carioca, Caxias e Grande Rio, foram os mais afetados.

Na análise dos analistas que assinam o relatório do Bofa, Carlos Peyrelongue e Aline Caldeira, a estratégia da Allos está alinhada com a busca por sinergias e aumento da ocupação e aluguéis futuros, mas o sucesso dessa estratégia ainda é incerto.

Por outro lado, a Multiplan se destacou positivamente em agosto, com 11 inaugurações. No entanto, os analistas do Bofa alertaram que os custos de ocupação na Multiplan estão acima dos seus concorrentes, representando um desafio adicional em um momento em que as varejistas enfrentam dificuldades financeiras.