Ser feliz é uma simples questão de hábito, será possível?

Na literatura, Oriental ou Ocidental, existem várias definições para felicidade, há quem diga que é apenas recordar o passado, e imaginar o futuro, mas nunca o presente. Outros dizem: a felicidade é o agora; é a qualidade daquele aspecto sempre novo do momento presente.
Publicado em Vida dia 23/02/2020 por Alan Corrêa

A felicidade pode ser traduzida em bem-estar, pois a palavra em si é algo muito vago. Conscientemente ou não, direta ou indiretamente, no curto ou no longo prazo, seja o que for que façamos, esperamos ou sonhamos, de alguma forma, tudo isto está relacionado com um desejo profundo de bem-estar e felicidade.

Na literatura, Oriental ou Ocidental, existem várias definições para felicidade, há quem diga que é apenas recordar o passado, e imaginar o futuro, mas nunca o presente. Outros dizem: a felicidade é o agora; é a qualidade daquele aspecto sempre novo do momento presente.

Entenda o que é, e como buscar a felicidade

O famoso filósofo francês Henri Bergson dizia que: “Todos os grandes pensadores da humanidade deixaram a felicidade na imprecisão… de forma que eles possam então defini-lá – cada um deles possa defini-la nos seu próprios termos.”

Mas Matthieu Ricard um bioquímico que se tornou monge budista, disse em uma palestra TED em fevereiro de 2004, que: “Essa seria a definição certa se felicidade fosse apenas uma preocupação secundária da vida.”

O que é a felicidade e como podemos conquistá-la?
O que é a felicidade e como podemos conquistá-la?

No entanto, a felicidade é algo que determina a qualidade de cada instante da nossa vida, só não pode fazer confusão entre felicidade e prazer. Vamos para a definição.

O prazer é mais como uma circunstância do tempo, de coisas e de lugares, é algo cujo o caráter se fantasia-se. Como, por exemplo, podemos sentir um prazer intenso em uma determinada situação, mas alguns dos que nos rodeiam podem estar sofrendo imensamente. Ou então, pensa na primeira fatia de um bolo de chocolate, ela é deliciosa, já a segunda nem tanto, e depois enjoa.

Podemos treinar nossa mente nos hábitos do bem-estar para gerar um verdadeiro sentimento de serenidade e realização.
Podemos treinar nossa mente nos hábitos do bem-estar para gerar um verdadeiro sentimento de serenidade e realização.

E a felicidade? Matthieu Ricard relata que: “Eu acredito que a melhor definição, segundo a perspectiva budista, é que o bem-estar não é apenas uma mera sensação de prazer. É um sentimento profundo de serenidade e realização, um estado que na verdade permeia e sustenta todos os estados emocionais e todas as alegria e tristezas que cruzam o nosso caminho.”

Mas para muitos a felicidade é apenas uma questão de “Ter tudo, ser feliz.” Esta frase revela por si o destino de destruição da felicidade. Acontece que, se houver algo que não se consiga ter, tudo desaba. As coisas do mundo exterior é limitado, temporário e, frequentemente, ilusório. Por isso, devemos buscar a felicidade na condições interiores. No entanto, é a mente que traduz as condições exteriores em felicidade e sofrimento, por exemplo, podemos estar em lugares que muitos consideraram um paraíso e no entanto, podemos estar completamente infelizes.

“Existem muitas pessoas que se encontram em circunstâncias muito difíceis que conseguem manter a serenidade, a força, a liberdade interior… a confiança. Então, se as condições interiores são mais fortes – claro que as condições exteriores têm influência, e é maravilhoso ter uma vida longa e saudável, ter acesso à informação, à educação, viajar ser livre. Todos desejamos isto. Contudo, isto não é suficiente; estas são apenas coisas acessórias. A experiência que tudo traduz está na mente.” Disse o monge budista.

 Em primeiro lugar, apesar do que os intelectuais franceses dizem, o fato é que ninguém se levanta de manhã pensando: "Tomara que eu sofra o dia inteiro."
Em primeiro lugar, apesar do que os intelectuais franceses dizem, o fato é que ninguém se levanta de manhã pensando: “Tomara que eu sofra o dia inteiro.”

Portanto, é a mente que determina esses estados de bem-estar. Mas há alguns estados da mente como raiva, ódio, inveja, arrogância, o desejo obsessivo e a ganância, que faz com que sejamos mais miseráveis e atormentados. Porém, por detrás de cada pensamento está a consciência pura, e esta é a natureza da mente.

Quando a mente está na mais pura consciência, ela não pode ser contaminada por ódio ou inveja, e sabendo disso, é possível acessar esse estado da mente em qualquer momento, em qualquer lugar. Sabemos que não estamos sempre zangados, sempre invejosos ou sempre generosos.

Para alcançar isso, o monge budista Matthieu Ricard diz que precisamos treinar a mente. “O treinamento da mente é baseado na idéia que dois fatores mentais opostos não podem ocorrer simultaneamente. Podemos ir do amor ao ódio. Mas não é possível sentí-los, ao mesmo tempo e em relação ao mesmo objeto, ou à mesma pessoa, desejarmos fazer o mal e o bem. Não podemos, com o mesmo gesto, dar um aperto de mão e um soco.” Contou Matthieu Ricard.

Acontece que, quando nos sentimos incomodados, com raiva ou aborrecidos com alguém, ou obcecados com algo, a mente foca repetidamente nesse objeto. Cada vez que volta a focar no objeto, se fortalece essa obsessão ou esse aborrecimento.

Uma das mais comuns é a confusão entre felicidade e prazer.
Uma das mais comuns é a confusão entre felicidade e prazer.

Então de acordo com Matthieu Ricard, o que precisamos fazer é olhar para o interior em vez de olharmos para o exterior, observar a própria raiva. Se fizermos isso o pensamento raivoso se dissipa, e melhor, se fizermos isto repetidamente, a propensão, a tendência de que o sentimento de raiva volte vai ser menor e menor a cada vez que deixamos ela se dissipar totalmente. E, no final, mesmo que possa surgir de novo, apenas passará pela nossa mente. Este é o principal segredo do treinamento da mente.

Por mais que isso leve tempo, a transformação da mente é o único significado da meditação. Ou seja, significa familiarização com uma nova forma de ser, uma nova forma de perceber as coisas, uma forma que se adequa mais a realidade, uma forma interdependente, com o fluxo e a transformação contínua que são o nosso ser e a nossa consciência. Portanto, a prática da meditação é a resposta para se levar uma vida feliz.