Sensor Portátil Permite Monitoramento Doméstico da Qualidade da Água

Em um desenvolvimento científico notável, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) anunciaram a criação de um sensor portátil inovador, capaz de transformar a maneira como monitoramos a qualidade da água em nossas residências.
Publicado em Ciência dia 20/08/2023 por Alan Corrêa

Em um desenvolvimento científico notável, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) anunciaram a criação de um sensor portátil inovador, capaz de transformar a maneira como monitoramos a qualidade da água em nossas residências.

Este dispositivo revolucionário, construído com papel e nanopartículas de ouro sintetizadas por meio de laser, tem o potencial de tornar mais acessível e econômico o rastreamento de compostos químicos presentes em líquidos, incluindo aqueles que podem impactar a potabilidade da água que consumimos diariamente. Os resultados desta pesquisa pioneira receberam destaque internacional, sendo destacados pela renomada Royal Society of Chemistry, com sede no Reino Unido, e publicados na respeitada revista científica Sensors & Diagnostics.

O diferencial deste sensor é seu custo acessível, estimado em pouco mais de R$ 0,50 por unidade. No entanto, sua verdadeira inovação reside na capacidade de produção em escala global, eliminando as etapas tradicionais que frequentemente envolvem intervenção humana e complexos processos de manufatura. É importante notar que essa tecnologia está atualmente em processo de patenteamento, sinalizando sua importância estratégica e potencial para transformar o panorama científico e tecnológico.

De acordo com o Dr. Thiago Regis Longo Cesar da Paixão, líder do Laboratório de Línguas Eletrônicas e Sensores Químicos do Instituto de Química da USP, “O uso do laser na síntese de nanopartículas elimina a necessidade de manipulação humana, reduzindo os custos de produção e permitindo escalabilidade. O laser carboniza o papel, convertendo celulose em carbono, e, com a adição de uma solução de ouro, as nanopartículas são formadas na superfície.”

O papel com nanopartículas de ouro desempenha um papel crucial na reação eletroquímica que identifica os componentes químicos presentes nos líquidos analisados. Esta técnica supera notavelmente os métodos tradicionais, incluindo serigrafia, impressão a jato de tinta, pulverização catódica e até mesmo desenho a lápis, oferecendo uma maior especificidade na detecção química.

Além disso, essa inovação é ecologicamente sustentável. Feito em sua maioria de papelão, o sensor pode incorporar materiais reaproveitados, evitando o uso de reagentes químicos tóxicos comuns em processos de fabricação.

A amplitude de aplicação prática dessa tecnologia é impressionante. Financiado pela FAPESP, o estudo revelou que o sensor pode detectar hipoclorito, uma substância usada para tratar água potável e piscinas, cujo excesso pode ser prejudicial. No entanto, as aplicações não se limitam a essa substância. O Dr. Paixão ressalta: “Esses dispositivos simples podem ser distribuídos em escala governamental para que os cidadãos monitorem a qualidade da água em suas casas e compartilhem dados com especialistas. Isso pode levar ao desenvolvimento de mapas abrangentes e embasar políticas públicas de controle da qualidade da água.”

A próxima fase de pesquisa se concentrará em dois aspectos promissores. A primeira abordagem envolve a síntese de nanomateriais, enquanto a segunda explorará a tecnologia de impressão 3D. A ambição é criar um dispositivo que possa ser aplicado em análises médicas, como medição de glicose, ou incorporado por gigantes da tecnologia, como Google, Microsoft e Samsung, em dispositivos vestíveis para monitoramento em tempo real. Esse desenvolvimento promete revolucionar uma série de campos e ilustra a capacidade contínua da ciência de surpreender e moldar o nosso mundo de maneiras inesperadas.

*Com informações da Fapesp.