Sátiras fazem parte do mundo livre..

Publicado em 12/01/2020 por Alan Corrêa

Os cartunistas vivem de sátiras, mas acontece que os extremistas, os ditadores, os autocratas e todos os ideólogos do mundo não suportam o humor. E por isso, os cartunistas políticos vem há anos sofrendo com um possível fim de suas sátiras.

“Mostrar os imperadores sem roupas é a tarefa da sátira, certo? “Falar a verdade ao poder”. Esse sempre foi o papel histórico da caricatura política.” Disse o cartunista editorial Patrick Chappatte, em uma palestra TED.

A censura dos Cartunistas

Na década de 1830, na França pós-revolucionária do rei Louis Philippe, jornalistas e caricaturistas lutaram muito pela liberdade de imprensa. Muitos foram presos e multados, mas no fim conseguiram triunfar. Para marcar esse tempo o cartunista Daumier fez uma caricatura do rei, descrevendo o monarca, e isso marcou a história, tornou-se o símbolo atemporal da sátira triunfando sobre a autocracia.

De lá para cá os cartunistas ainda vem tentando lutar por inclusão no mundo do humor. Mas muitas tentativas de acabar com a sátiras ainda vem acontecendo, em 2018, a cartunista Musa Kart foi condenado a três anos de prisão, simplesmente por fazer cartum político na Turquia de Erdoğan. Cartunistas da Venezuela, Rússia e Síria também têm sido forçados ao exílio.

Precisamos de humor como precisamos do ar que respiramos, diz o cartunista editorial Patrick Chappatte

Em 2012 outro cartunista, Hani Abbas publicou uma imagem que fez com que o regime da Síria fosse atrás dele e ele teve que fugir do país. Um bom amigo dele, o cartunista Akram Raslan, não conseguiu sair da Síria e morreu sob tortura. Nos Estados Unidos, recentemente, alguns dos principais cartunistas, como Nick Anderson e Rob Rogers, perderam o emprego porque os editores achavam os cartuns deles muito críticos ao presidente Donald Trump. E o mesmo aconteceu com o cartunista canadense Michael de Adder.

Diante de todo o antepassado, Patrick Chappatte se pergunta “Será que hoje, 200 anos depois de Daumier, cartuns políticos correm o risco de desaparecer?”

Cartuns políticos nasceram com democracia e são desafiados quando a liberdade é. E por isso todos os cartunistas começaram a se preocupar com o fim.

A ideia final

Ao longo dos anos, surgiram algumas iniciativas para ajudar os cartunistas, como a Fundação Cartooning for Peace, fundado pelo falecido Kofi Annan, Prêmio Nobel da Paz, ele era um grande defensor dos cartuns.

O conselho da Associação de Cartunistas Editoriais Americanos também surgiu para defender os cartunistas presos, ameaçados, demitidos e exilados.

A questão é que sátiras não trata-se só de opinião e jornalismo, mas sim de democracia. Shakespeare, há 400 anos descreveu exatamente as condições humanas da época entre altos e baixos dos cartunistas. Ele escreveu que: “A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, sem sentido.”

Mas o mundo mudou um pouco, agora tem a ver com as redes sociais, esta é a era da imagem, que são compartilhadas, se tornam virais, mas também se tornam um alvo principal, e por isso podem se tanto uma bênção como uma maldição para os cartuns. Só que na verdade, o verdadeiro alvo por trás do cartum é a mídia que o publicou.

Capa do Charlie Hebdo após o massacre de 7 de janeiro

“A mídia não deve ser intimidada pelas redes sociais e os editores deveriam parar de ter medo da multidão enfurecida. Não vamos colocar avisos como fazemos em maços de cigarro, não é? [SÁTIRA PODE FERIR SEUS SENTIMENTOS]. Cartuns políticos são feitos para provocar, assim como opiniões.” Relatou o cartunista Patrick Chappatte.

Para completar Patrick Chappatte, defende que a ideia que os cartunistas não devem se tornarem os próprios censores em nome do politicamente correto. E que para mudar essa história, devem se posicionar e continuar com os cartuns políticos mais do que nunca, pois precisam de humor tanto quanto o ar que respiram.