Presença de agrotóxicos na chuva de Campinas, Brotas e São Paulo preocupa pesquisadores da Unicamp

A crença de que a água da chuva é pura está sendo colocada em xeque por um estudo da Unicamp. Amostras coletadas entre 2019 e 2021 em Campinas, Brotas e São Paulo revelaram resíduos de agrotóxicos — inclusive a atrazina, banida no Brasil. A correlação com a atividade agrícola intensiva chama a atenção. A pesquisa acende um alerta para o uso da água da chuva e para a fiscalização de substâncias ilegais.
Publicado por Alan Correa em Brasil dia 24/04/2025

A ideia de que a água da chuva representa uma fonte limpa e segura está sendo desafiada por uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Publicado na revista Chemosphere e divulgado pela Revista Fapesp, o estudo analisou amostras de água pluvial em Campinas, Brotas e São Paulo e encontrou vestígios de agrotóxicos em todas elas.

Pontos Principais:

  • Estudo da Unicamp detectou agrotóxicos na chuva em três cidades paulistas.
  • Atrazina, substância proibida, foi encontrada em todas as amostras analisadas.
  • Campinas apresentou a maior contaminação, associada à área agrícola extensa.
  • Pesquisadores alertam para o risco do uso da água de chuva sem tratamento.

A coleta foi feita entre agosto de 2019 e setembro de 2021 e identificou resíduos de 14 tipos diferentes de pesticidas, incluindo herbicidas, fungicidas e inseticidas. Uma das descobertas mais alarmantes foi a presença da atrazina, herbicida proibido no Brasil, em todas as amostras analisadas.

Um estudo da Unicamp revelou que a água da chuva pode conter agrotóxicos mesmo em áreas urbanas como São Paulo - © Paulo Pinto/Agência Brasil
Um estudo da Unicamp revelou que a água da chuva pode conter agrotóxicos mesmo em áreas urbanas como São Paulo – © Paulo Pinto/Agência Brasil

Os resultados indicam uma correlação direta entre a concentração de agrotóxicos na água da chuva e a extensão das áreas de cultivo agrícola nas cidades analisadas. Campinas, que possui cerca de 50% de sua área total dedicada à agricultura, apresentou a maior concentração de contaminantes.

Brotas, com 30% de área agrícola, teve a segunda maior taxa de resíduos, enquanto São Paulo, com apenas 7% de área cultivada, registrou a menor quantidade detectada, embora ainda preocupante.

Campinas liderou com 701 microgramas por metro quadrado (µg/m²), seguida por Brotas com 680 µg/m² e São Paulo com 223 µg/m². Esses números revelam que, mesmo em grandes centros urbanos, a presença de pesticidas no ar e na água pode ser significativa.

Segundo a coordenadora do estudo, Cassiana Montagner, a pesquisa “desmistifica a ideia de que a água da chuva é totalmente limpa”. Para ela, é fundamental reavaliar o uso da água pluvial para consumo humano e outras finalidades domésticas.

A presença contínua de agrotóxicos na atmosfera, que acabam sendo absorvidos pela chuva, levanta questões sobre os impactos cumulativos na saúde pública, especialmente em populações vulneráveis como crianças e idosos.

Além do risco à saúde, o uso contínuo de substâncias proibidas como a atrazina aponta falhas nos mecanismos de fiscalização e controle da aplicação de defensivos agrícolas.

A pesquisa também reforça a necessidade de políticas públicas voltadas para o monitoramento ambiental, o uso responsável de pesticidas e o incentivo à agricultura sustentável.

Mais do que um alerta técnico, o estudo representa um chamado à ação. Repensar o uso de recursos naturais e garantir que a água — da chuva ou de qualquer outra fonte — esteja realmente livre de contaminação é um desafio urgente.

Fonte: Agenciabrasil e Veja.

Alan Correa
Alan Correa
Sou jornalista desde 2014 (MTB: 0075964/SP), com foco em reportagens para jornais, blogs e sites de notícias. Escrevo com apuração rigorosa, clareza e compromisso com a informação. Apaixonado por tecnologia e carros.