Pesquisa revela que Mata Atlântica tem maior número de espécies ameaçadas

O estudo se baseou nas listas de fauna, elaboradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e da flora, produzida pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), ambas divulgadas no ano passado. No total, foram avaliadas 21.456 espécies de animais e plantas em todos os biomas brasileiros, o que representa cerca de 12% da biodiversidade do país.
Publicado em Animais dia 25/05/2023 por Alan Corrêa

A pesquisa Contas de Ecossistemas – Espécies Ameaçadas de Extinção no Brasil, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Rio de Janeiro, revelou que a Mata Atlântica é o bioma brasileiro com o maior número de espécies de plantas e animais ameaçados de extinção no país.

O estudo se baseou nas listas de fauna, elaboradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e da flora, produzida pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), ambas divulgadas no ano passado. No total, foram avaliadas 21.456 espécies de animais e plantas em todos os biomas brasileiros, o que representa cerca de 12% da biodiversidade do país.

Com base nessas avaliações, os técnicos classificaram as espécies em diferentes níveis de ameaça. Esses níveis são, em ordem crescente de preocupação: vulnerável (VU), em perigo (EM) e criticamente em perigo (CR). As espécies consideradas “com dados insuficientes (DD)”, “menos preocupante (LC)” e “quase ameaçada (NT)” não são consideradas ameaçadas. A categoria NT é o último estágio antes de uma espécie ser classificada como vulnerável (VU).

Perereca-gladiadora-de-sino

Macho, da espécie Bokermannohyla ibitiguara, foi clicado por Rubens Turin na Serra da Canastra em Minas Gerais
Macho, da espécie Bokermannohyla ibitiguara, foi clicado por Rubens Turin na Serra da Canastra em Minas Gerais

A Mata Atlântica, com um total de 11.811 espécies avaliadas, apresenta o maior número de espécies avaliadas em comparação a outros biomas. No entanto, também é a área que abriga o maior número de espécies ameaçadas, com 2.845 espécies ameaçadas, representando aproximadamente um quarto (24,1%) do total. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 43% das espécies ameaçadas estão presentes na Mata Atlântica. Além disso, esse bioma registra o maior número de espécies declaradas extintas, com oito espécies, sendo a mais recente a perereca-gladiadora-de-sino (Boana cymbalum), conforme relatório do IBGE.

Leonardo Bergamini, pesquisador do IBGE, explica que esses números estão relacionados a características intrínsecas do próprio bioma, como a presença de muitas espécies endêmicas e com distribuição restrita. No entanto, o histórico de ocupação da Mata Atlântica também desempenha um papel importante, pois é o bioma que sofreu a maior ocupação e perda de área nativa. Além disso, a maioria das instituições e centros de pesquisa estão localizados nesse bioma, o que contribui para uma melhor disponibilidade de informações sobre sua biodiversidade e uma avaliação mais precisa do risco de extinção das espécies.

Em seguida, o cerrado é o bioma com o segundo maior número de espécies avaliadas, totalizando 7.385 espécies, das quais 1.199 são consideradas em risco (16,2% do total). Outros biomas que apresentam mais de 10% da vida selvagem ameaçada entre as espécies avaliadas são a caatinga, com 3.220 espécies ameaçadas (14,9%), e os pampas, com 229 espécies ameaçadas (13,7%).

Por outro lado, a Amazônia, com 503 espécies ameaçadas, e o Pantanal, com 1.825 espécies ameaçadas, são os biomas com menor número de espécies ameaçadas em relação ao total avaliado. Na Amazônia, as espécies ameaçadas representam 6% do total avaliado, enquanto no Pantanal correspondem a 4,1% do total.

Espécies e ambientes

O lobo-guará é uma das espécies ameaçadas da fauna, na categoria vulnerável. Foto: Pavel Dodonov/Flickr
O lobo-guará é uma das espécies ameaçadas da fauna, na categoria vulnerável. Foto: Pavel Dodonov/Flickr

Segundo o relatório do IBGE, houve um aumento no total de espécies avaliadas em 2022 em comparação com a lista elaborada em 2014. O número de plantas avaliadas passou de 9% do total (4.304) para 15% (7.517), enquanto os animais aumentaram de 10% (12.009) para 11% (13.939).

De acordo com Bergamini, isso representa um avanço significativo no sentido de obter um quadro mais completo sobre a situação das espécies no Brasil e, consequentemente, sobre a condição dos ecossistemas onde elas ocorrem.

O relatório também mostra que houve uma diminuição no número de espécies ameaçadas tanto na flora quanto na fauna. O percentual de plantas em risco de extinção reduziu de 47,4% em 2014 para 42,7% em 2022. Já os animais ameaçados diminuíram de 9,8% para 9% no mesmo período. Essa queda pode ser explicada pelo aumento no número de espécies avaliadas, de acordo com o IBGE.

No que diz respeito aos ambientes, a maioria das espécies analisadas, tanto na fauna quanto na flora, pertence ao ambiente terrestre, representando 65% em 2014 e 70% em 2022. As espécies de água doce diminuíram de 39% para 37%, enquanto as espécies marinhas reduziram de 16% para 15%.

*Com informações da Agência Brasil, UFJF e IBGE.