A pesquisa Contas de Ecossistemas – Espécies Ameaçadas de Extinção no Brasil, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Rio de Janeiro, revelou que a Mata Atlântica é o bioma brasileiro com o maior número de espécies de plantas e animais ameaçados de extinção no país.
O estudo se baseou nas listas de fauna, elaboradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e da flora, produzida pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), ambas divulgadas no ano passado. No total, foram avaliadas 21.456 espécies de animais e plantas em todos os biomas brasileiros, o que representa cerca de 12% da biodiversidade do país.
Com base nessas avaliações, os técnicos classificaram as espécies em diferentes níveis de ameaça. Esses níveis são, em ordem crescente de preocupação: vulnerável (VU), em perigo (EM) e criticamente em perigo (CR). As espécies consideradas “com dados insuficientes (DD)”, “menos preocupante (LC)” e “quase ameaçada (NT)” não são consideradas ameaçadas. A categoria NT é o último estágio antes de uma espécie ser classificada como vulnerável (VU).
A Mata Atlântica, com um total de 11.811 espécies avaliadas, apresenta o maior número de espécies avaliadas em comparação a outros biomas. No entanto, também é a área que abriga o maior número de espécies ameaçadas, com 2.845 espécies ameaçadas, representando aproximadamente um quarto (24,1%) do total. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 43% das espécies ameaçadas estão presentes na Mata Atlântica. Além disso, esse bioma registra o maior número de espécies declaradas extintas, com oito espécies, sendo a mais recente a perereca-gladiadora-de-sino (Boana cymbalum), conforme relatório do IBGE.
Leonardo Bergamini, pesquisador do IBGE, explica que esses números estão relacionados a características intrínsecas do próprio bioma, como a presença de muitas espécies endêmicas e com distribuição restrita. No entanto, o histórico de ocupação da Mata Atlântica também desempenha um papel importante, pois é o bioma que sofreu a maior ocupação e perda de área nativa. Além disso, a maioria das instituições e centros de pesquisa estão localizados nesse bioma, o que contribui para uma melhor disponibilidade de informações sobre sua biodiversidade e uma avaliação mais precisa do risco de extinção das espécies.
Em seguida, o cerrado é o bioma com o segundo maior número de espécies avaliadas, totalizando 7.385 espécies, das quais 1.199 são consideradas em risco (16,2% do total). Outros biomas que apresentam mais de 10% da vida selvagem ameaçada entre as espécies avaliadas são a caatinga, com 3.220 espécies ameaçadas (14,9%), e os pampas, com 229 espécies ameaçadas (13,7%).
Por outro lado, a Amazônia, com 503 espécies ameaçadas, e o Pantanal, com 1.825 espécies ameaçadas, são os biomas com menor número de espécies ameaçadas em relação ao total avaliado. Na Amazônia, as espécies ameaçadas representam 6% do total avaliado, enquanto no Pantanal correspondem a 4,1% do total.
Segundo o relatório do IBGE, houve um aumento no total de espécies avaliadas em 2022 em comparação com a lista elaborada em 2014. O número de plantas avaliadas passou de 9% do total (4.304) para 15% (7.517), enquanto os animais aumentaram de 10% (12.009) para 11% (13.939).
De acordo com Bergamini, isso representa um avanço significativo no sentido de obter um quadro mais completo sobre a situação das espécies no Brasil e, consequentemente, sobre a condição dos ecossistemas onde elas ocorrem.
O relatório também mostra que houve uma diminuição no número de espécies ameaçadas tanto na flora quanto na fauna. O percentual de plantas em risco de extinção reduziu de 47,4% em 2014 para 42,7% em 2022. Já os animais ameaçados diminuíram de 9,8% para 9% no mesmo período. Essa queda pode ser explicada pelo aumento no número de espécies avaliadas, de acordo com o IBGE.
No que diz respeito aos ambientes, a maioria das espécies analisadas, tanto na fauna quanto na flora, pertence ao ambiente terrestre, representando 65% em 2014 e 70% em 2022. As espécies de água doce diminuíram de 39% para 37%, enquanto as espécies marinhas reduziram de 16% para 15%.
*Com informações da Agência Brasil, UFJF e IBGE.