O Supremo Tribunal Federal abriu nesta semana um dos julgamentos mais relevantes da história recente do Brasil, envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e sete de seus aliados mais próximos. As sessões, que começaram em 2 de setembro, estão previstas para se estender até o dia 12 do mesmo mês, com encontros programados tanto pela manhã quanto à tarde em alguns dias. A atenção nacional e internacional se concentra sobre o processo, que busca responsabilizar o núcleo considerado crucial de uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022.
Os réus respondem a acusações feitas pela Procuradoria-Geral da República, que os aponta como articuladores de um plano para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Entre os acusados estão ex-ministros militares como Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, além do ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, e do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Bolsonaro, já em prisão domiciliar em Brasília, é citado como principal beneficiário da trama.

As acusações são amplas e incluem crimes como tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, formação de organização criminosa armada, golpe de Estado, dano ao patrimônio da União e deterioração de bens tombados. A pena máxima, se somadas todas as condenações possíveis, pode ultrapassar quatro décadas de prisão. Para Bolsonaro, a denúncia o coloca na posição de articulador central, ampliando o peso político e jurídico do julgamento.
O processo na Primeira Turma do STF está sob a presidência do ministro Cristiano Zanin e contará ainda com os votos de Cármen Lúcia, Luiz Fux, Alexandre de Moraes e Flávio Dino. A ordem prevista para votação começa com o relator Alexandre de Moraes, seguido pelos demais ministros. A maioria é alcançada com três votos, o que define a condenação ou absolvição.
A dinâmica do julgamento inclui a leitura do relatório, a manifestação do procurador-geral Paulo Gonet e a defesa de cada um dos acusados. Mauro Cid, por ter firmado acordo de delação, teve sua defesa ouvida em primeiro lugar. A de Bolsonaro, por ordem alfabética, será apresentada na sexta posição. Esse modelo garante que as argumentações sejam analisadas com base em critérios técnicos e em etapas sucessivas de sustentação oral.
Caso a condenação seja confirmada, os ministros ainda precisarão estabelecer a dosimetria das penas e possíveis efeitos civis e administrativos, como perda de cargos públicos e indenizações por danos morais coletivos. Já se a maioria absolver os réus, o processo será arquivado. A legislação brasileira não prevê execução imediata da pena em julgamentos desse tipo, uma vez que recursos ainda podem ser apresentados, o que significa que Bolsonaro não deixará o tribunal preso em caso de condenação inicial.
A repercussão internacional também acompanha de perto esse julgamento. Veículos estrangeiros destacaram a gravidade da acusação e classificaram os eventos de 2022 como uma tentativa “esquisita e bárbara” de golpe. Esse olhar externo reforça o caráter inédito do processo, tanto no cenário brasileiro quanto global, onde raramente ex-chefes de Estado são julgados por conspirações desse porte.
