Um estudo divulgado hoje (15) na Revista Nature revelou que as áreas protegidas da Amazônia brasileira que apresentam as maiores concentrações populacionais de onças-pintadas estão localizadas em áreas mais afetadas pela degradação do habitat causada pelo ser humano. Segundo a pesquisa, a degradação ocorre principalmente em áreas que abrigam grandes populações desse felino e é causada pelo desmatamento, expansão agrícola, incluindo pastagens para gado e cultivos agrícolas, e incêndios florestais.
A pesquisa foi realizada por uma parceria entre a organização não governamental WWF, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) e outros pesquisadores. Os autores do estudo incluem Juliano Bogoni, Valeria Boron, Carlos Peres, Maria Eduarda Coelho, Ronaldo Morato e Marcelo Oliveira da Costa.
O estudo identificou dez áreas protegidas na Amazônia que estão ameaçadas e necessitam de ações emergenciais para a preservação da onça-pintada amazônica: as terras indígenas Apyterewa, Araribóia, Cachoeira Seca, Kayapó, Marãiwatsédé, Parque do Xingu, Uru-Eu-Wau-Wau, Yanomami, a Estação Ecológica da Terra do Meio e o Parque Nacional Mapinguari.
“As fronteiras agrícolas estão chegando mais próximas. Então, a onça sai para atacar mais lugares. Além disso, tem mais caçadores dentro dessas áreas. Tem garimpeiro dentro da terra yanomami, e esses caras caçam, e caçam a presa da onça. Eles também fazem armadilhas e matam as onças”, destaca o coautor do estudo, especialista em conservação e líder do programa de proteção de espécies ameaçadas do WWF-Brasil, Marcelo Oliveira.
O estudo avaliou 447 áreas protegidas na Amazônia brasileira, incluindo 330 reservas indígenas. As áreas analisadas representam 41,7% da Amazônia brasileira, com uma extensão total de 1.755.637 km², e abrigam aproximadamente 26,68 mil onças-pintadas, de acordo com os modelos utilizados na pesquisa.
De acordo com Marcelo Oliveira, um dos pesquisadores envolvidos no estudo, os resultados enfatizam a importância das terras indígenas como santuários para a onça-pintada e a biodiversidade em geral. Ele afirma que o futuro desses animais, mesmo em regiões neotropicais mais preservadas, como a Amazônia, só será garantido em áreas protegidas onde as restrições de uso do solo possam ser rigidamente aplicadas. Ele acrescenta que esses espaços são cruciais para a preservação da biodiversidade, mas estão sob múltiplas pressões geopolíticas, incluindo a redução de tamanho, a recategorização e a extinção das áreas protegidas.
“Precisamos fortalecer a gestão dessas áreas. Nos últimos quatro anos, foi extremamente difícil com o enfraquecimento da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e outros órgãos que promovem a fiscalização”, disse Oliveira.
Os pesquisadores sugerem uma série de ações emergenciais, incluindo o aumento do financiamento e apoio às áreas protegidas e terras indígenas, em especial as prioritárias identificadas pelo estudo, além de fortalecer a participação dos povos indígenas e comunidades locais nas decisões e gestão de seus territórios.
Além disso, os pesquisadores propõem o aumento de recursos para as agências ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), e a implementação de políticas e arcabouços legais fortes que impeçam a redução, recategorização e extinção das áreas protegidas.
*Com informações do WWF, ICMBIO, Nature e Agência Brasil.