Onças estão em áreas ameaçadas na Amazônia, revela estudo

Um estudo divulgado hoje (15) na Revista Nature revelou que as áreas protegidas da Amazônia brasileira que apresentam as maiores concentrações populacionais de onças-pintadas estão localizadas em áreas mais afetadas pela degradação do habitat causada pelo ser humano. Segundo a pesquisa, a degradação ocorre principalmente em áreas que abrigam grandes populações desse felino e é causada pelo desmatamento, expansão agrícola, incluindo pastagens para gado e cultivos agrícolas, e incêndios florestais.
Publicado em Animais dia 16/02/2023 por Alan Corrêa

Um estudo divulgado hoje (15) na Revista Nature revelou que as áreas protegidas da Amazônia brasileira que apresentam as maiores concentrações populacionais de onças-pintadas estão localizadas em áreas mais afetadas pela degradação do habitat causada pelo ser humano. Segundo a pesquisa, a degradação ocorre principalmente em áreas que abrigam grandes populações desse felino e é causada pelo desmatamento, expansão agrícola, incluindo pastagens para gado e cultivos agrícolas, e incêndios florestais.

A pesquisa foi realizada por uma parceria entre a organização não governamental WWF, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) e outros pesquisadores. Os autores do estudo incluem Juliano Bogoni, Valeria Boron, Carlos Peres, Maria Eduarda Coelho, Ronaldo Morato e Marcelo Oliveira da Costa.

Onça pintada está na lista de animais ameaçados de extinção - Divulgação/Centro de Instrução de Guerra na Selva
Onça pintada está na lista de animais ameaçados de extinção – Divulgação/Centro de Instrução de Guerra na Selva

O estudo identificou dez áreas protegidas na Amazônia que estão ameaçadas e necessitam de ações emergenciais para a preservação da onça-pintada amazônica: as terras indígenas Apyterewa, Araribóia, Cachoeira Seca, Kayapó, Marãiwatsédé, Parque do Xingu, Uru-Eu-Wau-Wau, Yanomami, a Estação Ecológica da Terra do Meio e o Parque Nacional Mapinguari.

“As fronteiras agrícolas estão chegando mais próximas. Então, a onça sai para atacar mais lugares. Além disso, tem mais caçadores dentro dessas áreas. Tem garimpeiro dentro da terra yanomami, e esses caras caçam, e caçam a presa da onça. Eles também fazem armadilhas e matam as onças”, destaca o coautor do estudo, especialista em conservação e líder do programa de proteção de espécies ameaçadas do WWF-Brasil, Marcelo Oliveira.

O estudo avaliou 447 áreas protegidas na Amazônia brasileira, incluindo 330 reservas indígenas. As áreas analisadas representam 41,7% da Amazônia brasileira, com uma extensão total de 1.755.637 km², e abrigam aproximadamente 26,68 mil onças-pintadas, de acordo com os modelos utilizados na pesquisa.

De acordo com Marcelo Oliveira, um dos pesquisadores envolvidos no estudo, os resultados enfatizam a importância das terras indígenas como santuários para a onça-pintada e a biodiversidade em geral. Ele afirma que o futuro desses animais, mesmo em regiões neotropicais mais preservadas, como a Amazônia, só será garantido em áreas protegidas onde as restrições de uso do solo possam ser rigidamente aplicadas. Ele acrescenta que esses espaços são cruciais para a preservação da biodiversidade, mas estão sob múltiplas pressões geopolíticas, incluindo a redução de tamanho, a recategorização e a extinção das áreas protegidas.

“Precisamos fortalecer a gestão dessas áreas. Nos últimos quatro anos, foi extremamente difícil com o enfraquecimento da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e outros órgãos que promovem a fiscalização”, disse Oliveira.

Os pesquisadores sugerem uma série de ações emergenciais, incluindo o aumento do financiamento e apoio às áreas protegidas e terras indígenas, em especial as prioritárias identificadas pelo estudo, além de fortalecer a participação dos povos indígenas e comunidades locais nas decisões e gestão de seus territórios.

Além disso, os pesquisadores propõem o aumento de recursos para as agências ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), e a implementação de políticas e arcabouços legais fortes que impeçam a redução, recategorização e extinção das áreas protegidas.

*Com informações do WWF, ICMBIO, Nature e Agência Brasil.