Obras para COP30 avançam em Belém com foco na infraestrutura, mas dúvidas sobre legado persistem

Enquanto Belém se prepara para receber a COP30, moradores e autoridades convivem com sentimentos opostos: otimismo pelas obras e dúvidas sobre seu impacto duradouro. A cidade vê intervenções urbanas ganhando ritmo, mas comunidades locais criticam a falta de diálogo e transparência. Com 186 dias até o evento, o desafio é equilibrar o cronograma apertado com a promessa de um legado permanente para além da conferência climática da ONU.
Publicado por Alan Correa em Brasil e Turismo dia 2/05/2025

O clima político e logístico em Belém começa a esquentar a seis meses do início da COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas marcada para novembro. A capital paraense vive um momento de transformações profundas, com obras em andamento, negociações em curso e decisões estratégicas que envolvem desde infraestrutura até o controle de preços praticados durante o evento. A expectativa é que cerca de 50 mil pessoas desembarquem na cidade para participar do encontro, entre chefes de Estado, pesquisadores, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil.

Pontos Principais:

  • Obras em Belém visam atender à COP30 e deixar melhorias permanentes.
  • Moradores periféricos apontam exclusão e questionam critérios de investimento.
  • Governo aposta em legado estrutural, mas enfrenta pressão por transparência.
  • Com 186 dias restantes, cronograma é apertado e legado ainda é incerto.

Nos bastidores, o governo federal, em parceria com o Governo do Pará, tem adotado medidas para evitar que a demanda extraordinária por hospedagem e transporte aéreo resulte em aumentos abusivos. Uma das estratégias é propor um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o setor hoteleiro, utilizando o Círio de Nazaré como base comparativa para os preços cobrados durante a COP30. Esse movimento foi motivado por denúncias de valores considerados fora da curva, que levaram a uma resposta coordenada entre diferentes esferas do poder público.

O avanço das obras em Belém para a COP30 revela uma cidade em transformação. Placas tomam conta das ruas e o governo corre contra o tempo a 186 dias do evento climático global - Foto: Raphael Luz / Ag. Pará
O avanço das obras em Belém para a COP30 revela uma cidade em transformação. Placas tomam conta das ruas e o governo corre contra o tempo a 186 dias do evento climático global – Foto: Raphael Luz / Ag. Pará

O Senado também decidiu intervir de forma mais direta no processo. A Comissão de Meio Ambiente aprovou uma diligência externa para acompanhar os preparativos da conferência in loco. A proposta partiu do senador Fabiano Contarato (PT-ES), presidente da comissão, e contou com apoio da senadora Leila Barros (PDT-DF), que sugeriu a criação de uma subcomissão temporária. O objetivo é monitorar o andamento das obras e a preparação institucional para garantir que o Brasil esteja à altura do desafio de sediar um evento internacional desse porte.

Infraestrutura e obras em andamento

Enquanto as intervenções urbanas seguem em ritmo acelerado, moradores das periferias expressam dúvidas sobre os reais impactos das obras em suas regiões e no futuro da cidade - Foto: Bruno Cruz / Ag. Pará
Enquanto as intervenções urbanas seguem em ritmo acelerado, moradores das periferias expressam dúvidas sobre os reais impactos das obras em suas regiões e no futuro da cidade – Foto: Bruno Cruz / Ag. Pará

As intervenções urbanas em Belém seguem em ritmo acelerado, com foco especial no Parque da Cidade, que será a principal sede da conferência. O discurso oficial, reforçado por representantes do governo do Pará, é de que as melhorias servirão não apenas à COP30, mas também à população local, em um suposto legado de longo prazo. Contudo, ainda paira a dúvida sobre quais projetos estarão finalizados a tempo do início do evento.

Comunidades locais demonstram preocupação com os impactos das obras e com a falta de diálogo em algumas decisões logísticas. Placas e anúncios de intervenções se espalham pela cidade, ao passo que questões como mobilidade urbana, saneamento e acesso periférico seguem como desafios. A promessa é que a COP traga não apenas visibilidade, mas também soluções práticas para a vida cotidiana da população de Belém.

A cidade, que não foi sede de grandes eventos como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas, agora se vê no centro de um esforço nacional para garantir uma conferência de relevância global. Além da construção civil, a preparação envolve aspectos diplomáticos, técnicos e operacionais, que exigem articulação entre ministérios, governos locais e entidades internacionais.

Hospedagem e controle de preços

A escassez de leitos é um dos principais obstáculos logísticos da COP30. Antes da preparação para a conferência, Belém contava com cerca de 18 mil leitos. A meta estipulada pelos organizadores é atingir 50 mil, mas até o momento foram contabilizados 36 mil, o que revela um déficit superior a 13 mil acomodações. Para reduzir a pressão, o governo articula alternativas como cruzeiros e hospedagens via Airbnb.

Em paralelo, o custo das diárias passou a ser monitorado de forma ativa, especialmente após denúncias de que hotéis e motéis locais estariam praticando valores elevados. Diante desse cenário, o governo federal propôs um TAC aos representantes do setor hoteleiro com a intenção de balizar os preços com base nos valores médios praticados durante o Círio de Nazaré, evento religioso que também atrai milhares de turistas à cidade.

A proposta do TAC inclui previsão de multas em caso de descumprimento e possibilidade de sanções adicionais baseadas no Código de Defesa do Consumidor e na lei de concorrência. O governo não descarta avaliar outros parâmetros, desde que reflitam condições reais de mercado e estejam formalizados em comum acordo com o setor.

Passagens aéreas e regulação

As passagens aéreas também entraram no radar das autoridades. Um levantamento em andamento avalia a variação de preços de voos para Belém com origem em Brasília e São Paulo. Segundo apurações preliminares, o valor das tarifas durante a COP pode ser até 80% superior ao praticado durante o Círio de Nazaré, o que acendeu o alerta sobre aumentos considerados desproporcionais.

A equipe responsável pela organização do evento aguarda a consolidação dos dados, prevista para meados de maio, para tomar decisões sobre possíveis ações. Entre as possibilidades estão novas rodadas de negociação com as companhias aéreas e eventual recomendação de medidas legais junto à Senacon e ao Cade, em caso de infração às normas de mercado.

A busca por um “ponto de equilíbrio” nos preços é tida como prioridade para evitar que a realização do evento se torne inacessível para parte dos participantes ou comprometa a imagem institucional da COP30. Segundo Valter Correia, secretário da COP30 no governo federal, o objetivo é garantir uma estrutura funcional e acessível sem comprometer a integridade do mercado.

Atuação do Senado e fiscalização

Senado vai acompanhar preparativos para COP 30 - Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Senado vai acompanhar preparativos para COP 30 – Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

A movimentação do Senado para acompanhar a COP30 reforça o interesse institucional no sucesso do evento. A diligência da Comissão de Meio Ambiente prevê visitas às obras e reuniões com gestores locais para avaliar prazos, execução orçamentária e transparência das ações. A subcomissão temporária, por sua vez, atuará de forma permanente até a conclusão do evento.

O senador Fabiano Contarato destacou a relevância da COP como oportunidade de reposicionar o Brasil nas discussões globais sobre o clima. O discurso foi endossado por Leila Barros, que defendeu o acompanhamento técnico do Congresso como forma de assegurar o cumprimento das metas e garantir que o evento seja um marco de referência, e não uma promessa não cumprida.

Essa vigilância se dá em um momento em que a realização de conferências internacionais no Brasil volta ao centro das estratégias de política externa, especialmente com foco na pauta ambiental. O evento de novembro será um teste logístico, político e simbólico, tanto para a imagem do país quanto para sua atuação no debate climático internacional.

Fonte: Agenciapara, Senado, Valor, Folha e Revistaoeste.

Alan Correa
Alan Correa
Sou jornalista desde 2014 (MTB: 0075964/SP), com foco em reportagens para jornais, blogs e sites de notícias. Escrevo com apuração rigorosa, clareza e compromisso com a informação. Apaixonado por tecnologia e carros.