No último mês, o programa Desenrola completou seu primeiro mês de operação, atendendo a impressionante marca de 985 mil clientes e renegociando dívidas bancárias que totalizam R$ 8,1 bilhões, conforme os mais recentes dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Este programa, que almeja expandir suas operações para abranger também débitos não bancários nas próximas semanas, recebeu elogios por sua iniciativa, porém, economistas alertam para a necessidade de cautela por parte dos consumidores beneficiados.
Um dos pontos críticos identificados reside na carência de educação financeira na primeira fase do programa. Durante esta etapa, o Desenrola removeu do histórico de crédito dívidas de até R$ 100 e está reestruturando os débitos com instituições financeiras para clientes com renda de até R$ 20 mil. Contudo, economistas advertem que sem um planejamento adequado, o alívio financeiro proporcionado poderia ser efêmero, levando os correntistas a recair em endividamentos futuros.
A questão central de preocupação concentra-se nos débitos de até R$ 100. Sob a condição de adesão ao Desenrola, as instituições financeiras anularam as pendências financeiras abaixo desse valor. No entanto, os débitos não foram eliminados, persistindo e acumulando juros.
Gilberto Braga, professor de Finanças do Ibmec, esclarece que “essa medida teve como objetivo liberar o consumo. Quando há a desnegativação, o consumidor pode voltar a fazer crediário, mas isso não implica a quitação da dívida”. Dados recentes do Banco Central indicam juros médios de 59,9% ao ano no crédito a pessoas físicas, o que significa que tais débitos podem dobrar em um ano e meio.
Cerca de cinco milhões de registros de dívidas inferiores a R$ 100 foram eliminados dos cadastros negativos até 27 de julho deste ano, de acordo com a Febraban. Muitas dessas dívidas eram relacionadas a contas esquecidas em instituições financeiras, as quais continuavam a acumular tarifas. No entanto, muitos consumidores sequer tinham conhecimento desses débitos devido à falta de verificação dos extratos das contas ou carteiras virtuais.
Especialistas enfatizam a necessidade de educação financeira para garantir que a renegociação bem-sucedida não resulte em futuros problemas de dívida. Recomenda-se que, para aqueles que parcelaram seus débitos, priorizem o cumprimento desses compromissos reestruturados antes de considerar novas aquisições. Ainda que as parcelas possam parecer acessíveis, a responsabilidade financeira deve prevalecer.
No entanto, até agora, uma das principais críticas ao Desenrola é a ausência de um programa de reeducação financeira para os participantes. Embora algumas instituições financeiras tenham promovido campanhas de esclarecimento por meio de vídeos, a participação nesses cursos não é obrigatória para aderir às renegociações.
A segunda etapa do programa, chamada de “Faixa 2”, receberá cursos de educação financeira, mas apenas como um complemento para a oferta de descontos na “Faixa 1”, que engloba dívidas não bancárias. A falta de um componente de reeducação financeira é notada por Gilberto Braga, que sugere que disponibilizar recursos para auxiliar as pessoas a gerenciar melhor seus orçamentos seria benéfico.
Outra precaução importante para os correntistas é a prevenção contra golpes. Desde o lançamento do Desenrola, golpistas têm enviado links falsos por e-mail, SMS e aplicativos de mensagens, oferecendo falsas oportunidades de renegociação. Os usuários que clicam nesses links correm o risco de terem seus dispositivos hackeados ou de serem direcionados para páginas fraudulentas que resultam na transferência de dinheiro para criminosos.
Nesta fase do programa, é responsabilidade dos correntistas iniciarem o processo de renegociação com as instituições financeiras através dos canais oficiais, como aplicativos, sites ou atendimento presencial em agências. É importante enfatizar que o Desenrola é um programa passivo, ou seja, a iniciativa parte do devedor, e não dos credores.
Enquanto o programa demonstra resultados positivos, o cuidado com a educação financeira e a vigilância contra fraudes continuam sendo questões essenciais para os participantes. Com a próxima expansão do Desenrola para abranger dívidas não bancárias, a expectativa é que mais consumidores se beneficiem do alívio financeiro proporcionado por essa iniciativa.
*Com informações da Agência Brasil.