O mito da violência pode estar perto de você, entenda

Pode parecer mentira, mas os tempos atuais estão mais pacífico que entre todos os outros tempos da existência da espécie humana.
Publicado em Vida dia 9/03/2020 por Alan Corrêa

Pode parecer mentira, mas os tempos atuais estão mais pacífico que entre todos os outros tempos da existência da espécie humana.

Ao longo do século XX (atual), ocorreram várias atrocidades de Stalin, Hitler, Mao, Pol Pot, Ruanda e outros genocídios, sem contar os horrores diários que ainda acontecem no Iraque. Apesar disso, nossos ancestrais eram bem mais violentos do que nós somos, e a violência está em declínio há muito tempo.

O que acontece?

Há quem pense que: “A vida dos índios era difícil, mas não havia problemas de emprego, a harmonia da comunidade era forte, uso de drogas era desconhecido, o crime era praticamente não existente, e o que havia de guerras entre tribos eram na maioria das vezes ritualísticas e raramente resultaram. em assassinatos indiscriminados ou em massa.” Essa é a escrita de um editorial no dia de Ação de Graças do Boston Globe.

Só que esse pensamento está errado, claro que agora a redução da violência vem ocorrendo há muito tempo, mesmo não parecendo. O declínio da violência é um fenômeno quase imperceptível, o que pode-se observar ao longo dos milênios, ao longo de séculos, décadas e anos, apesar de parecer ter começado no início da Idade da Razão, no Século XVI, por exemplo. Já se via isso por todo o mundo, embora não de forma homogênea. No entanto, foi mais evidente no Ocidente, começando pela Inglaterra e Holanda, na época do Iluminismo.

Ainda na escala milenar, podemos observar o estilo de vida das civilizações antigas tais como as descritas na Bíblia. O psicólogo Steven Pinker mapeia o declínio da violência desde os tempos bíblicos até os nossos dias, e conta tudo em uma palestra TED, em março de 2007.

“Até 10 mil anos atrás, todos os humanos viviam como caçadores-coletores, sem fixação permanente ou governo. E esse é o estado que é comumente considerado como sendo de harmonia primordial. Mas o arqueólogo Lawrence Keeley, analisando as taxas de mortalidade dos caçadores-coletores contemporâneos, têm mostrado uma conclusão bem diferente.” Disse Steven Pinker.

Na Bíblia podemos encontrar trechos onde Moisés diz aos guerreiros, para que matem os homens, matem as crianças, e se virem algumas virgens então poderia deixá-las vivas para que as estuprem. Na Bíblia também, pode-se verificar que a pena de morte era punição aceita para crimes como homossexualidade, adultério, blasfêmia, idolatria, contestar seus pais, entre outros.

Qualquer história social irá revelar que mutilação e tortura eram formas rotineiras de penalidade criminal. O tipo de infração que hoje em dia resultaria em apenas uma multa, naqueles tempos poderiam tornar-se em ter a língua cortada, as orelhas arrancadas, ser cegado, ter uma mão amputada, e por aí vai.

Mas, numa escala logarítmica, partindo de 100 mortes a cada 100 mil pessoas por ano, que era a taxa aproximada de homicídio na Idade Média, hoje os números despenca para menos de um homicídio para cada 100 mil pessoas por ano em 7 ou 8 países europeus.

Então a questão é: porque tanta gente ainda pensa errada a respeito da violência de hoje e antigamente?

O psicólogo Steven Pinker diz que: “Existe uma ilusão cognitiva: nós, psicólogos cognitivos sabemos que quanto mais fácil for lembrar instâncias específicas de uma coisa, mas alta a probabilidade de você se associar a ela. Coisas sobre as quais lemos nos jornais com cobertura sangrenta fixam mais na memória do que os relatos de mais gente morrendo de velhice enquanto dormem.”

Ou seja, com a tecnologia está sendo mais visível as atrocidades ao redor de todo o mundo, o que causa um aparência de maior violência no que nos tempos anteriores, onde a violência não era divulgada.

No entanto, uma das razões da violência ter diminuído é que as pessoas estão fartas da carnificina e crueldade da sua época. Este é um processo que parece continuar, mas se ultrapassa o comportamento padrão da época, as coisas podem parecer mais bárbaras do que elas podiam ter sido considerando os padrões históricos. Portanto, ninguém sabe ao certo porque a violência diminuiu.

“Qualquer que seja a sua causa, o declínio da violência tem implicações profundas. Ele devia nos forçar a perguntar “Porque existe a guerra ? E também “Porque existe a paz?” Não apenas “O que estamos fazendo errado?” mas também “O que estamos fazendo certo? ” Porque estivemos fazendo alguma coisa certa, e com certeza seria bom descobrir o que é isso.” Finaliza dizendo Steven Pinker.