As pequenas gotas que se tornaram emblemáticas na história da imunização ao erradicar a poliomielite no Brasil estão se aproximando de sua aposentadoria. A substituição da vacina oral contra a doença pela versão intramuscular promete oferecer uma proteção ainda mais eficaz para os brasileiros.
Em 7 de julho, o Ministério da Saúde anunciou que gradualmente substituirá a vacina oral contra a poliomielite (VOP) pela versão inativada (VIP) a partir de 2024. Essa decisão foi baseada em recomendações da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), que avaliou as novas evidências científicas apontando a maior segurança e eficácia da VIP.
Apesar dessa mudança, o Ministério da Saúde enfatizou que o Zé Gotinha, símbolo histórico da campanha de vacinação no Brasil, continuará desempenhando seu papel de conscientizar crianças, pais e responsáveis, participando de ações de imunização e campanhas governamentais.
A poliomielite, mais conhecida como paralisia infantil devido à paralisia permanente que pode causar nas pernas e braços, agora está a um passo de ser erradicada de forma ainda mais eficaz no Brasil.
A vacinação contra a poliomielite atualmente é administrada em três doses de VIP aos 2, 4 e 6 meses de idade, seguidas por duas doses de reforço de VOP aos 15 meses e aos 4 anos de idade.
A partir do primeiro semestre de 2024, o governo federal orientará uma mudança nesse esquema, eliminando as duas doses de reforço da vacina oral e substituindo-as por uma única dose de reforço da vacina inativada, que será administrada aos 15 meses de idade. Portanto, o esquema completo de vacinação contra a poliomielite incluirá quatro doses, aplicadas aos 2, 4, 6 e 15 meses de idade.
A facilidade de aplicação e o baixo custo foram fatores que tornaram as gotas orais uma ferramenta eficaz na luta contra a poliomielite no Brasil e em outros países. De acordo com a presidente da Comissão de Certificação da Erradicação da Pólio no Brasil, Luíza Helena Falleiros Arlant, essas gotas foram cruciais para combater a doença.
Em 1988, quando a pólio estava causando mais de 350 mil casos em todo o mundo, a vacina oral era a solução necessária para imunizar milhões de pessoas rapidamente e conter a epidemia. No entanto, pesquisas recentes, realizadas a partir dos anos 2000, demonstraram que a VIP era mais segura e eficaz do que a VOP.
A vacina oral, que contém o poliovírus enfraquecido, pode, em casos extremamente raros, levar a quadros de pólio vacinal com sintomas semelhantes aos causados pelo vírus selvagem. Além disso, fatores como desnutrição e doenças intestinais podem interferir na eficácia da vacina oral, enquanto a VIP oferece uma resposta imunológica mais segura, eficaz e duradoura.
A transição para a VIP já está em andamento em muitos países da América Latina, com o objetivo da Organização Mundial da Saúde (OMS) de substituir completamente a vacina oral pela intramuscular em todo o mundo até 2030. Isso se deve não apenas à maior segurança da VIP, mas também à redução dos eventos adversos em comparação com a VOP.
A diferença fundamental entre essas vacinas reside no fato de que a VOP contém o poliovírus enfraquecido, enquanto a VIP contém o vírus inativado, o que a torna mais segura, uma vez que não pode sofrer mutações ou se tornar virulenta novamente.
Além disso, estudos recentes têm mostrado que o poliovírus enfraquecido presente na VOP pode sofrer mutações e se tornar neurovirulento ao ser excretado no meio ambiente com as fezes, o que aumenta o risco de disseminação da doença em comunidades não vacinadas.
Portanto, a substituição da vacina oral pela intramuscular é uma medida necessária para garantir a proteção contínua contra a poliomielite. Enquanto a doença persistir em qualquer lugar do mundo, todos correm o risco de contrair a doença, tornando a imunização uma questão crucial para proteger a saúde pública.
As taxas de cobertura vacinal no Brasil caíram nos últimos anos, o que é preocupante, uma vez que a vacinação é essencial para manter a imunidade da população. É fundamental conscientizar a população sobre a importância da vacinação e garantir que todas as crianças recebam as doses necessárias.
Embora a poliomielite esteja quase erradicada no Brasil, é crucial continuar promovendo a vacinação como um ato de amor e responsabilidade para proteger as futuras gerações contra essa doença e outras preveníveis por meio da imunização.
*Com informações da Agência Brasil.