Chamar a atenção principalmente nas mídias sociais é um desejo de muita gente, o problemas é que isso pode atrapalhar seu desempenho em uma certa atividade. O certo é que devemos trocar o querer chamar a atenção por prestar a atenção.
Há duas sensações poderosas: chamar atenção e prestar atenção. Mais ou menos na última década, novas tecnologias permitiram a cada vez mais pessoas ter essa sensação poderosa de chamar atenção a qualquer tipo de expressão criativa, seja por composição, fotografia, desenho, música ou todas as outras coisas.
Diante disso, as pessoas acabam concentrando mais sua criatividade em como chamar a atenção, e à medida que as mídias sociais explodiram na última década, ficou mais viciante tentando ganhar seguidores e curtidas para se sentir bem.
O Instagram, por exemplo, que é uma plataforma de mídia social, ganha dinheiro vendendo atenção, a atenção dos usuários para anunciantes. E não é o Instagram que chama tanta atenção, somos nós que chamamos a atenção para ele, toda vez que uma pessoa publica no Instagram, ela recebe uma certa atenção de seus seguidores, quer sejam alguns poucos ou alguns milhões. Quanto mais atenção conseguimos chamar, mais atenção o Instagram consegue vender. É do interesse do Instagram que chamemos o máximo de atenção possível. Assim, ele nos treina para querermos essa atenção, desejarmos, ficarmos muito estressados quando não chamamos atenção o bastante. O Instagram deixa seus usuários viciados na sensação poderosa de chamar atenção.
Joseph Leonard Gordon-Levitt é um ator, diretor, produtor e roteirista norte-americano, ficou mais conhecido por interpretar o personagem Robin nos filmes do Batman. Ele contou em uma palestra para a TED em abril de 2019, como o querer chamar a atenção atrapalhou seu desempenho como ator.
“Apareceu o Twitter. Fiquei totalmente viciado nele, assim como todo mundo, o que me tornou um completo hipócrita, porque, naquele momento, eu usava totalmente minha atuação para chamar atenção. Quero dizer, será que eu achava que tinha todos aqueles seguidores por causa de meus “tweets” geniais? Na verdade, eu achava que sim…Em pouquíssimo tempo, isso começou a impactar meu amado processo criativo. Ainda impacta. Tento não permitir. Mas sabe, eu ficava sentado lá, lendo um roteiro. E, em vez de pensar: “Como posso me identificar com este personagem?” ou “Como o público vai se relacionar com esta história?”, eu pensava: “O que as pessoas vão dizer sobre este filme no Twitter?” e “O que vou responder que será bom e irônico o bastante para repercutir, mas não muito duro, pois muitos podem se ofender, e não quero ser excluído?” Esses pensamentos passavam pela minha cabeça quando eu deveria estar lendo um roteiro, tentando ser artista.” Contou Joseph Gordon-Levitt.
Ser viciado em chamar atenção é como ser viciado em qualquer outra coisa. Nunca é o bastante. Você começa e pensa: “Se eu tivesse mil seguidores, seria incrível”. Mas depois você pensa: “Bem, quando eu chegar a 10 mil seguidores”, e “Quando eu chegar a 100… Quando eu chegar a 1 milhão de seguidores, vou me sentir incrível”. E ver que outra pessoa tem mais seguidores que você, faz sentir-se péssimo, isso porque o número de seguidores faz com que todos se sintam assim. Essa sensação de insuficiência nos leva a publicar para chamar mais atenção. A atenção que atraímos é o que as mídias sociais vendem. Por isso que, se a criatividade for motivada pelo desejo de chamar atenção, nunca nos sentiremos realizados criativamente.
O fato é que precisamos exercitar o poder de prestar atenção somente em uma coisa. Há uma ciência por trás disso, psicólogos e neurocientistas estudam um fenômeno que chamam de fluxo, que acontece no cérebro humano quando alguém presta atenção somente em uma coisa, como algo criativo, e consegue não se distrair com qualquer outra coisa, e conclui que, quanto mais fizermos isso, mais felizes seremos.
É um tarefa difícil, mas prestar atenção de verdade, assim, requer prática, e todos podem fazer do seu jeito. “Posso compartilhar algo que creio que me ajuda a concentrar e a prestar atenção, é isto: tento não ver outras pessoas criativas como meus concorrentes. Tento encontrar colaboradores. Por exemplo, se eu estiver atuando em uma cena e começar a ver os outros atores como meus concorrentes e dizer: “Puxa vida, eles vão chamar mais atenção do que eu. As pessoas vão falar mais sobre o desempenho deles”, vou perder meu foco e provavelmente estragar aquela cena. Mas, quando vejo os outros atores como colaboradores, fica quase fácil me concentrar, porque só estou prestando atenção neles. Não tenho que pensar no que estou fazendo. Reajo ao que eles estão fazendo, e eles ao que eu estou fazendo, e podemos manter uns aos outros nisso juntos. Mas não quero que pensem que somente atores em um estúdio podem colaborar dessa forma. Posso estar em qualquer tipo de situação criativa, seja profissional ou apenas por diversão.” Revelou o famoso ator Joseph Gordon-Levitt.
A partir disso pode-se dizer que, se pudéssemos parar de competir por atenção, a internet se tornaria um ótimo lugar para encontrar colaboradores. Quando se colabora com outras pessoas, seja onde for, fica muito mais fácil de prestar a atenção em uma única coisa, e tornar aqui bem mais fácil e perfeitamente bem feito.
“Quando estou atuando, fico tão concentrado que só presto atenção em uma coisa. É como no estúdio, quando estamos prestes a filmar, e o primeiro diretor grita: “Rodando!” Depois ouço “velocidade”, “marca”, “pronto” e, então, o diretor grita: “Ação!” Ouvi essa sequência tantas vezes, que se tornou um feitiço mágico para mim. “Rodando”, “velocidade”, “marca”, “pronto” e “ação”. Acontece algo comigo, que não consigo evitar. Minha atenção… fica restrita, e tudo mais no mundo, qualquer coisa que possa me incomodar ou chamar minha atenção… desaparece, e estou apenas… lá. Essa sensação, que adoro, para mim, é a criatividade. É a maior razão pela qual sou tão grato por ser ator.” Concluiu Joseph Gordon-Levitt.