O tempo todo, o dia todo, todos os dias, no mundo todo, coisas terríveis estão acontecendo, as pessoas sofrem perdas profundamente marcantes e traumáticas todos os dias, ou seja, todo mundo que você ama tem 100% de chance de morrer.
Mas sob todos os aspectos, deve-se seguir em frente, continuar vivendo, isso não quer dizer que tem que deixar o que passou para trás, mas sim seguir vivendo. O fato é que uma pessoa de luto também podem sorrir de novo e com sorte, até encontrar o amor novamente.
Não é fácil para ninguém perder alguém que ama, seja marido, esposa, namorada, namorado ou algum parente, não importa. E diante disso sempre surge alguém que fale “deixe pra trás”, e isso quer dizer que a vida, a morte e o amor são apenas momentos que facilmente poderiam ser deixados para trás; o que não é fácil assim.
A escritora e “podcaster” Nora McInerny realizou uma palestra TED em novembro de 2018, onde de forma potente, ela fala sobre como abordar a dor de uma perda de forma diferente.
“Escrevi alguns livros muito animadores, tenho um podcast muito inspirador, comecei uma pequena ONG. Estou tentando fazer o que posso para deixar mais pessoas confortáveis com o desconfortável, e a dor é tão desconfortável. É tão desconfortável, especialmente se é a dor de outra pessoa. Então, parte desse trabalho é um grupo que comecei com meu amigo Moe, que também é viúvo; nós o chamamos de Hot Young Widows Club.” Disse ela.
Ninguém entende realmente a dor de perder alguém até que tenha chegado a sua vez, ou seja, até passar por isso. E quando acontece isso, quando é um amor ou o próprio bebê, quando chega a vez de estar na primeira fila de um funeral, é que entende. E vai entender que o que está experimentando não é um momento no tempo, um osso quebrado que vai se recuperar, mas sim que foi tocado por algo crônico, algo incurável.
Não tem como deixar para trás, porque entendendo ou não, quando as pessoas queridas morrem elas ainda continuam presente dentro de cada um. Está presente no trabalho, em casa, na vida e até mesmo na própria pessoa que se tornou depois de passar pelo que passou. Portanto, não se deixa para trás, segue em frente com ela.
“Porque quando você vê seu parceiro se encher de veneno por três anos, só para ficar vivo um pouco mais de tempo com você, isso fica com você. Quando ele deixa de ser a pessoa saudável da noite em que vocês se conheceram e vira nada, isso fica com você. Quando você vê seu filho, que ainda não tem dois anos, caminhar até a cama de seu pai no seu último dia de vida, como se soubesse o que aconteceria em poucas horas, e dizer: “Eu amo você. Tudo certo. Tchau”. Isso fica com você.” Contou Nora McInerny.
Acontece que, não se olha simplesmente para as pessoas ao seu redor e vê que elas estão vivendo as alegrias e maravilhas da vida e diz para elas “deixarem pra trás” ou então “superem isso”, é o mesmo que acontece quando alguém sofre uma perda, não quer deixar para trás tudo o que viveu.
Mas no final a dor não é fatal, mesmo parecendo ser, e o que se pode fazer para seguir em frente com isso, é não se fechar em torno dessa perda e não fizer dela o centro da vida, é preciso lembrar que o mundo continuou girando.
“O que podemos fazer além de tentar lembrar uns aos outros que algumas coisas não podem ser consertadas, e nem todas as feridas devem curar? Precisamos uns dos outros para lembrar, para nos ajudarem a lembrar que a tristeza é uma emoção multitarefa. Que você pode e vai ficar triste e feliz; você estará de luto, e será capaz de amar no mesmo ano ou semana, no mesmo fôlego. Precisamos lembrar que uma pessoa de luto vai rir de novo, vai sorrir de novo. Com sorte, ela até vai encontrar o amor novamente. Mas, sim, sem dúvida, ela vai seguir em frente. Mas isso não significa que ela tenha deixado para trás.” Finaliza a escritora Nora McInerny.