Marmaray e Túnel da Eurásia: as megaconexões que unem Europa e Ásia por baixo do Bósforo

Muito antes dos trens cruzarem o fundo do mar em Istambul, o sonho de unir Europa e Ásia já existia. Hoje, com o Marmaray e o Túnel da Eurásia, essa ligação é real. Um transporta milhares de passageiros sob 60 metros d’água; o outro, veículos em poucos minutos. Com tecnologia sísmica de ponta e descobertas arqueológicas milenares, essas obras remodelam o presente e o futuro logístico e cultural entre dois continentes.
Publicado por Maria Eduarda Peres em Mundo dia 11/06/2025

A ligação entre Europa e Ásia em Istambul é muito mais do que uma travessia geográfica — é um marco de engenharia, história e estratégia global. O Projeto Marmaray e o Túnel da Eurásia representam, juntos, duas das mais complexas infraestruturas subterrâneas do planeta, transformando não só a mobilidade urbana como também o comércio euroasiático.

Pontos Principais:

  • O Marmaray é o túnel ferroviário submerso mais profundo do mundo, com 60 metros de profundidade.
  • O Túnel da Eurásia é uma via rodoviária de dois andares que cruza o Bósforo a até 106 metros de profundidade.
  • Ambos os projetos foram construídos em zonas sísmicas e usam tecnologia avançada contra terremotos.
  • As obras revelaram importantes descobertas arqueológicas, como o Porto de Teodósio e assentamentos neolíticos.
  • Essas estruturas integram o transporte urbano e logístico, fortalecendo a Nova Rota da Seda entre China e Europa.
A ligação ferroviária entre Europa e Ásia se tornou realidade com o Marmaray. Inaugurado em 2013, o túnel atravessa o Bósforo a 60 metros de profundidade sob o mar.
A ligação ferroviária entre Europa e Ásia se tornou realidade com o Marmaray. Inaugurado em 2013, o túnel atravessa o Bósforo a 60 metros de profundidade sob o mar.

O Marmaray é um túnel ferroviário de 13,6 km, sendo 1,4 km submerso, localizado a até 60 metros abaixo do Estreito de Bósforo. Considerado o túnel ferroviário submerso mais profundo do mundo, ele conecta os distritos de Halkalı (Europa) e Gebze (Ásia), oferecendo um transporte de alta capacidade com até 75 mil passageiros por hora em cada sentido.

Sua construção começou em 2004 e enfrentou desafios gigantescos. Próximo à Falha da Anatólia do Norte, foi projetado para resistir a terremotos de até 7.5 de magnitude. O túnel é flexível, possui seções pré-fabricadas com compartimentos de segurança e passou por rigorosa avaliação sísmica por entidades internacionais como a TÜV SÜD.

Durante as escavações, o Marmaray revelou um passado esquecido de Istambul. As obras em Yenikapı levaram à descoberta do Porto de Teodósio, naufrágios bizantinos dos séculos V a XI e o mais antigo assentamento da cidade, com cerca de 8.500 anos. Esses achados atrasaram a obra por quatro anos, mas reescreveram a história da região.

Já o Túnel da Eurásia é uma via rodoviária de 5,4 km, com dois andares e profundidade de até 106 metros. Ele conecta Kumkapı (Europa) a Koşuyolu (Ásia) em uma rota total de 14,6 km, incluindo acessos. Concluído em 2016, permite travessias em cerca de 5 minutos, operando exclusivamente para veículos leves.

A construção do Túnel da Eurásia também enfrentou a instabilidade geológica da região. Foi usado um TBM de última geração com sensores e pressão de até 12 bar. O projeto inovou ao aplicar juntas sísmicas flexíveis testadas em laboratório, garantindo segurança contra terremotos com magnitude de até 7.25.

Ambas as obras utilizam sistemas de segurança modernos. O Marmaray conta com comportas de emergência entre seções e integração com outros modais de transporte. O Túnel da Eurásia oferece áreas de fuga a cada 200 metros, escape vertical e velocidade limitada a 70 km/h, com pedágio eletrônico.

Além da mobilidade urbana, essas estruturas têm papel estratégico global. O Marmaray é um pilar do Corredor Médio da Nova Rota da Seda, permitindo transporte ferroviário entre China e Europa em cerca de 12 dias. À noite, o túnel é usado para trens de carga, tornando a travessia contínua e eficiente.

Juntas, essas megaconstruções representam um novo paradigma em mobilidade intercontinental. Elas não só conectam continentes, mas também unem passado e futuro, modernidade e patrimônio, engenharia e arqueologia. São, hoje, símbolos da resiliência e da ambição de Istambul no cenário global.

Fonte: Cnnportugal, Wikipedia, En-m-wikipedia-org e Clickpetroleoegas.