Uma mulher que ficou completamente paralisada após sofrer um derrame cerebral alcançou uma incrível capacidade de se comunicar novamente. Isso foi possível graças a um implante que captura os sinais das regiões do cérebro relacionadas à fala e linguagem, os quais são então transmitidos para um computador. Por meio do uso de inteligência artificial, esses sinais cerebrais são traduzidos em frases compreensíveis.
Há dois anos, Ann Johnson se deparou com uma notícia sobre um grupo de médicos e cientistas da Universidade da Califórnia que haviam conseguido transformar os sinais cerebrais de um paciente paralisado em palavras, permitindo-lhe comunicar-se. Impressionada por essa pesquisa, Ann entrou em contato com a equipe de cientistas. Sean Metzger, que liderou os testes com o primeiro paciente chamado de Pancho, assim como com Ann, compartilhou informações sobre o processo.
“No caso do nosso primeiro participante, usamos um sistema composto por 128 eletrodos. No entanto, no caso da Ann, aumentamos para 253 eletrodos, o que realmente aprimorou a precisão da decodificação”, explicou Sean. Para calibrar o sistema, a inteligência artificial precisou aprender a partir de uma variedade de frases ditas por Ann. Foram necessárias cerca de 18 horas de dados, envolvendo aproximadamente 9.000 frases nas quais ela tentou falar.
A equipe utilizou uma placa fina, similar a um papel, contendo os eletrodos. Essa placa foi implantada dentro do crânio de Ann, sobre as áreas do cérebro responsáveis pelo envio de comandos relacionados à fala. Os eletrodos capturam os sinais cerebrais enviados aos músculos dos lábios, língua, mandíbula e laringe quando a pessoa tenta articular palavras. Um cabo, conectado a uma entrada fixada na cabeça de Ann, transmite os dados para um computador equipado com um sistema de inteligência artificial. Um avatar, uma representação digital, então vocaliza as palavras que Ann deseja expressar.
Para reproduzir sua voz, a equipe utilizou um antigo vídeo de seu casamento. Além disso, Ann teve a oportunidade de escolher como seu avatar se apresentaria. Parag Patil, neurocirurgião e engenheiro biomédico, destacou a importância dos avanços no campo do aprendizado de máquina para alcançar esse incrível resultado.
Parag Patil também revisou o estudo conduzido pela equipe da Universidade da Califórnia a pedido da revista americana Nature. Ele fez uma analogia com o ChatGPT, conhecido por coletar informações da internet e gerar discursos coesos. As mesmas técnicas estão sendo aplicadas para decodificar os sinais cerebrais e compreender as intenções de comunicação do paciente.
A equipe responsável pelo estudo com Ann acredita que, em um prazo de 2 a 4 anos, possam desenvolver uma versão do sistema que não exija cabos conectados à cabeça do paciente. Parag Patil expressou otimismo em relação às inovações que veremos nos próximos anos e compartilhou sua visão sobre o futuro: “Imagine como seria maravilhoso se pudéssemos permitir que alguém voltasse a andar ou falasse novamente, mesmo após perder a capacidade de falar. Com base no progresso que estamos observando, acredito que isso será realidade nos próximos 10 a 15 anos”.
Esse avanço emocionante marca um passo significativo em direção a permitir que pessoas com limitações de comunicação possam se expressar e interagir com o mundo ao seu redor de maneira mais independente e eficaz.