A denúncia de um trabalhador submetido a regime análogo à escravidão por quase dez anos, em Planura (MG), mobilizou o Ministério Público do Trabalho, que agora cobra uma indenização que pode chegar a R$ 1,3 milhão. O caso envolve três homens com diferentes formações — professor, administrador e contador — que mantinham uma instituição de ensino na cidade e utilizavam redes sociais para aliciar vítimas LGBT+ em situação de vulnerabilidade.
Pontos Principais:
A vítima principal, um homem de 32 anos, relatou ter sofrido violência contínua durante nove anos. Ele foi coagido a tatuar as iniciais de dois dos patrões nas costelas, como uma forma de controle e domínio. Além das agressões físicas, ele também foi vítima de abusos sexuais e psicológicos, tendo sido chantageado com vídeos gravados pelos agressores.

O trio está preso na Penitenciária Professor Aluízio Ignácio de Oliveira, em Uberaba, e responde por crimes como tráfico de pessoas e exploração de trabalho forçado. A ação civil do MPT solicita que os acusados sejam condenados a pagar R$ 300 mil em verbas salariais e rescisórias, além de R$ 1 milhão por danos morais individuais e mais R$ 2 milhões por danos morais coletivos, com valores destinados à reparação da comunidade local.
Além do trabalhador que viveu por quase uma década em situação degradante, uma mulher transexual de 29 anos também foi resgatada. Natural do Uruguai, ela viveu seis meses sob domínio do grupo e relatou receber entre R$ 100 e R$ 600 por mês. Em dezembro, sofreu um Acidente Vascular Cerebral, possivelmente causado pelo estresse, e foi abandonada sem qualquer suporte.
A investigação começou com uma denúncia anônima feita ao Disque 100, que revelou indícios de cárcere privado, exploração sexual e trabalho doméstico forçado. O auditor fiscal do trabalho Humberto Monteiro Camasmie informou que as vítimas eram encontradas principalmente em páginas voltadas ao público LGBT+, onde os criminosos se aproximavam oferecendo abrigo e oportunidades de estudo.
A operação que levou ao resgate das vítimas foi conduzida pelo Ministério do Trabalho e Emprego com apoio da Polícia Federal. As vítimas hoje recebem assistência médica, psicológica e jurídica de instituições como a Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e da Unipac.
Até o momento, o Ministério Público do Trabalho ainda não confirmou se a mulher uruguaia será incluída na ação indenizatória. O caso gerou forte repercussão por revelar o grau de violência, manipulação e aliciamento de pessoas em extrema vulnerabilidade social por meio de promessas enganosas e aparente suporte educacional.
