A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está finalizando a produção da vacina Schistovac contra a esquistossomose, que estará disponível para o Sistema Único de Saúde (SUS) no final de 2025. Essa vacina é considerada a primeira do mundo contra a doença parasitária negligenciada. Desenvolvida pela Fiocruz, a vacina está na fase final, segundo a pesquisadora Miriam Tendler, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz.
O projeto da vacina entrou na fase clínica entre 2010 e 2011, passando por cinco testes clínicos importantes. As fases 1 e 2 foram realizadas no Brasil, em área não endêmica, após aprovação regulatória da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em seguida, os testes da fase 2 foram realizados no Senegal, em uma área endêmica, em colaboração com o Instituto Pasteur de Lille, da França. Os testes foram conduzidos primeiro em adultos e depois em crianças. Atualmente, está sendo realizado o processamento de dados, encerrando a parte de campo.
Uma modificação no esquema de vacinação foi introduzida, semelhante ao que ocorreu com a vacina da COVID-19. A vacina Schistovac será aplicada em duas doses, com um intervalo de um mês entre elas, seguidas por uma terceira dose após quatro meses. Essa alteração visa obter uma resposta imunológica mais eficaz.
Durante o desenvolvimento da vacina, foi utilizado um novo lote chamado Sm14, produzido a partir de um banco de células mestre nos Estados Unidos. Houve um avanço significativo no processo de produção, permitindo escalonar a produção em larga escala. A fase 2 foi concluída em fevereiro de 2023, aguardando a avaliação da imunogenicidade.
A esquistossomose é uma doença endêmica em 74 países da África, afetando cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. A vacina Schistovac, desenvolvida pela Fiocruz, coloca o Brasil como fornecedor de tecnologia avançada, invertendo o paradigma de importar vacinas de outras regiões. A Fiocruz assumiu o comando completo da fase final do projeto e da etapa de produção da vacina.
A vacina será considerada humanitária e estará alinhada com as diretrizes da Organização das Nações Unidas (ONU). A transferência de tecnologia para o Instituto Nacional de Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), outra unidade da Fiocruz, está em andamento. A intenção é fornecer a vacina para os países africanos dentro do contexto humanitário, por meio de um fundo de financiamento que está sendo elaborado com o apoio do escritório diplomático brasileiro em Genebra.
A conclusão do projeto e a disponibilização da vacina representam um marco importante no combate à esquistossomose, uma doença com alto impacto nas populações dos países endêmicos. A Fiocruz, engajada em uma plataforma de vacinas antiparasitárias, espera que esse avanço abra caminho para o desenvolvimento de vacinas contra outras doenças parasitárias, como a lepra e a leishmaniose.
*Com informações da Fiocruz e Agência Brasil.