Entendendo melhor seu cérebro com 3 dicas

Um cérebro tem 100 bilhões de células nervosas, pequenos filamentos de protoplasma, interagindo, e dessa atividade manifesta-se todo o espectro de habilidades conhecida como natureza humana e consciência.
Publicado em Ciência dia 18/02/2020 por Alan Corrêa

Um cérebro tem 100 bilhões de células nervosas, pequenos filamentos de protoplasma, interagindo, e dessa atividade manifesta-se todo o espectro de habilidades conhecida como natureza humana e consciência.

O cérebro funciona através de determinados órgãos do corpo humano, são enviadas ao cérebro as sensações, utilizando uma rede de neurônios que fazem parte do sistema nervoso.

Estudo do cérebro

O estudo do cérebro humano pode acontecer de várias maneiras. Umas das abordagem que o neurologista Vilayanur Ramachandran, que estuda as funções e estrutura do cérebro humano, mais usa, é o estudo através da forma de delírios causadas por lesões no cérebro.

“A que usamos mais, é olhar para pacientes com danos duradouros em pequenas regiões do cérebro onde ocorreu uma mudança genética em uma pequena região O que acontece não é uma redução geral em todas as suas capacidades mentais, um tipo de deficiência de sua habilidade cognitiva. O que acontece é uma perda muito específica de uma função com outras funções sendo preservadas intactas, e isso dá confiança em dizer que aquela parte do cérebro está de alguma maneira envolvida naquela função Então podemos mapear função sobre as estruturas e descobrir o que aquele circuito faz para gerar aquela função.” Disse Vilayanur Ramachandran em uma palestra TED, ministrada em março de 2007.

Um cérebro tem 100 bilhões de células nervosas
Um cérebro tem 100 bilhões de células nervosas

3 doenças que deixa o cérebro confuso

O primeiro exemplo é uma síndrome extraordinária chamada Síndrome de Capgras, que tem relação com os lobos temporais, frontais, parietais do cérebro. Se olharmos escondido dentro dos lobos temporais existe uma estrutura chamada giro fusiforme, conhecida como a área da face no cérebro.

Quando essa área é danificada, não se pode mais reconhecer a cara das pessoas, ou seja, é possível reconhecer pela voz, mas não dá para identificar o rosto e dizer que é. Este tipo de dano no cérebro impossibilita até se reconhecer no espelho, no caso pode até saber que é você porque você se mexe e o reflexo se mexe, e você sabe que é um espelho, mas você realmente não se reconhece como você mesmo.

Nessa mesma ideia também há outra síndrome rara, que poucos neurologistas conhecem, chamada de delírio de Capgras, e este é um tipo de sequela causada no cérebro que impede de reconhecer a própria mãe. Sem contar que a pessoa pode ser lúcida e inteligente em em todos os outros quesitos, mas quando vê sua mãe, o delírio aparece e ele diz não é a mãe, mas que se parece com ela e que é uma impostora.

Lesões no cérebro podem revelar sobre a conexão entre tecido cerebral e a mente
Lesões no cérebro podem revelar sobre a conexão entre tecido cerebral e a mente

A interpretação mais comum que se encontra em textos psiquiátricos para esse caso, é a visão Freudiana, e diz que quando somos bebês, principalmente homens, sente uma atração sexual pela mãe Este é o chamado complexo de édipo de Freud. E então quando crescemos, o córtex se desenvolve, e inibe esse impulso sexual latente que se tem pela própria mãe.

“E então o que acontece é, há uma batida na sua cabeça, danificando o córtex, permitindo esses desejos latentes emergirem, inflamando a superfície, e de repente e inexplicavelmente você fica sexualmente atraído pela sua mãe E então você diz “Meu Deus, se esta é minha mãe, como posso estar excitado? É alguma outra mulher. Ela é uma impostora” É a única interpretação que faz sentido pro seu cérebro danificado” Conta o neurologista Vilayanur Ramachandran.

O que ocorre é na verdade a perda de reconhecer o rosto. Normalmente, sinais visuais entram pelos olhos, vão até as áreas visuais do cérebro, onde existem mais de 30 áreas na parte de trás do cérebro só para receber as imagens capturada pela visão, e após processar tudo isso, a mensagem vai para uma pequena estrutura chamada giro fusiforme, onde é aí que permite nós reconhecermos os rostos, há neurônios ali que são sensíveis a faces. E quando essa área é danificada perdemos a habilidade de ver rostos.

A segunda doença impressionante do cérebro é considerando outra síndrome curiosa chamada membros fantasmas. Quando um braço ou um perna é amputado, por gangrena, e continua a sentir vividamente a presença daquele braço perdido, isto é chamado braço ou perna fantasma Na verdade podem ocorrer fantasmas com quase qualquer parte do corpo, e para a surpresa de muitos, até com vísceras internas.

1,4kg de massa gelatinosa você pode segurá-la na palma da mão e ela pode contemplar o vasto espaço interestelar
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Nas pessoas com membros fantasmas paralisados, o braço original estava paralisado por dano ao nervo periférico, o nervo que ia para aquele braço estava danificado, tinha sido cortado, por um acidente, por exemplo. Ou então, um paciente que teve um braço real, e sentia dor, por alguns meses ou um ano, e então, numa tentativa errônea de aliviar a dor, o cirurgião amputou o braço, e então você ganha um braço fantasma com a mesma dor. Este é um problema clínico sério, onde pacientes chegam até a ficarem depressivos e cometerem suicídio.

E o doutor Vilayanur Ramachandran explica que: “Quando o braço estava intacto, mas paralisado, o cérebro manda comandos para o braço, a parte frontal do cérebro diz “Mexa” mas recebe um retorno visual dizendo “Não” Mexa. Não. Mexa. Não. Mexa. Não. E isso fica conectado aos circuitos do cérebro e chamamos isso paralisia aprendida. O cérebro aprende, porque há um elo associativo Hebbiano de que o mero comando para mover o cérebro cria uma sensação de braço paralisado e então, quando você amputa o braço, essa paralisia aprendida vai para a sua imagem corporal e para o seu fantasma.”

Por fim, a terceira doença é sobre outro curioso fenômeno chamado sinestesia. Foi descoberto por Francis Galton no século 19, onde toda vez que se vêem um número ele é colorido, por exemplo, o 5 é azul, 7 amarelo, 8 verde água, 9 é azul escuro, e assim por diante. Isso pode acontecer mesma a pessoa sendo completamente normais em todos outros aspectos.

É chamado sinestesia porque envolve uma mistura dos sentidos. Em todos nós, os sentidos são distintos, mas nas pessoas que tem esse tipo de problema misturam os sentidos.

Um dos aspectos desse problema é muito intrigante, pois, a sinestesia ocorre com frequência em famílias, por isso pode-se levar em consideração que a causa base é hereditária ou genética.

A sinestesia o principal ponto da criatividade, ela é oito vezes mais comum entre artistas, poetas e romancistas e outras pessoas criativas do que na população em geral.

Há muitas teorias para o que realmente é a sinestesia ou sobre a causa. Uma teoria é simplesmente de que são loucos, mas isto não é realmente uma teoria científica, então não faz sentido. Então, Vilayanur Ramachandran revela que: “Descobrimos que a área de cor e de números são vizinhas no cérebro, no giro fusiforme. Então pensamos que havia um cruzamento acidental entre cores e números no cérebro. Portanto, cada vez que você vê um número, você vê uma cor correspondente e por isso tem sinestesia.”

Acontece que, todos nós nascemos com tudo conectado a todo o resto Então cada região cerebral está conectada a todas as outras e estas conexões são podadas para criar a característica modular do cérebro adulto. Então se há um gene que causa essa poda e esse gene sofre mutação se ganha uma poda inadequada entre áreas adjacentes, e se é entre número e cor, acontece a sinestesia de número e cor se é entre som e cor, você tem sinestesia de som e cor.

A área do cérebro em que acontece isso é oito vezes maior em tamanho, especialmente em humanos, comparado a primatas inferiores Algo muito interessante acontece no giro angular porque é o encontro de audição, visão e tato, e se tornou enorme em humanos, e por isso algo incrível sempre acontece.

“Acho que é a base de muitas habilidades exclusivamente humanas como abstração, metáforas e criatividade” Disse o neurologista Vilayanur Ramachandran.

Todas essas questões são estudadas há anos por filósofos. Mas os cientistas neurologistas sabem mais sobre isso, por explorarem o cérebro com imagens cerebrais, e estudando pacientes fazendo as perguntas certas.