Durante a entrega do Prêmio Nobel de Química de 2019 para Akira Yoshino, um dos cientistas responsável pelo desenvolvimento das baterias de íons de lítio, ele afirmou que a reciclagem é a chave do sucesso para popularizar os veículos elétricos no planeta. Porém o custo para reciclar ainda é muito grande, podendo ser, na maioria das vezes, mais caro que desenvolver um produto novo.
Entretanto, é possível sim reciclar baterias de carros elétricos. Uma vez que as baterias são recicladas, elas podem ser reutilizadas para qualquer equipamento eletrônico, seja em notebooks, celulares ou qualquer outro dispositivo eletrônico, além dos carros, obviamente.
Por mais que as baterias de íons de lítio sejam menos tóxicas do que outras baterias, como a de chumbo-ácido por exemplo, quando descartadas incorretamente, também gera impacto ambiental, pois o lítio é um elemento altamente reativo.
Além disso, como a vida útil das baterias é de até 15 anos, não só a procura por baterias novas irá aumentar em breve, mas também o número de baterias velhas descartadas.
Por isso que, com a popularização dos carros elétricos, as fabricantes passam a enfrentar o grande desafio de reciclar as baterias, mas elas não são tão fáceis de serem recuperadas.
Jörg Zimmermann, do Instituto Fraunhofer para Ciclos de Reciclagem e Estratégia de Recursos (IWKS), na Alemanha, relata que: “Os maiores desafios não estão apenas na recuperação de material de qualidade, mas começa logo no início com a desmontagem da bateria. Isso não funciona automaticamente.”
Atualmente, as montadoras de automóveis estão recolhendo suas baterias usadas de seus próprios carros elétricos e as colocam no processo de reciclagem, que é feito por empresas especializadas.
Recentemente a Divisão de Componentes do Grupo Volkswagen inaugurou em Salzgitter, na Alemanha, a primeira planta do Grupo VW para reciclagem de baterias de carros elétricos. A iniciativa tem como objetivo chegar a um processo de ciclo fechado, recuperando matérias-primas valiosas a partir de baterias de íons de lítio.
“A Divisão de Componentes do Grupo Volkswagen dá mais um passo em sua responsabilidade sustentável de ponta a ponta sobre a bateria, um elemento fundamental da mobilidade elétrica”, afirmou Thomas Schmall, membro do Conselho de Administração da Volkswagen AG, Divisão Técnica, e presidente do Conselho de Administração da Divisão de Componentes do Grupo Volkswagen. Ele acrescenta: “Estamos implementando o ciclo sustentável de materiais recicláveis e desempenhando um papel pioneiro na indústria num tema voltado para o futuro, com grande potencial para a proteção do clima e o suprimento de matérias-primas.”
“Consequentemente, componentes essenciais de células de baterias usadas podem ser utilizados para produzir novo material para cátodos”, explica Mark Möller, chefe da Unidade de Negócios de Desenvolvimento Técnico e Mobilidade Elétrica.
“Sabemos, pela pesquisa, que as matérias-primas extraídas de baterias recicladas são tão eficientes quanto as novas. No futuro, queremos auxiliar nossa produção de células de baterias com o material que recuperamos. Como a demanda por baterias e suas matérias-primas correspondentes vai crescer drasticamente, podemos garantir um bom uso para cada grama de material reciclado.”
Como funciona o processo de reciclagem do Grupo VW? Antes da bateria ser reciclada, uma análise determina se ela continua suficientemente potente para ganhar uma segunda vida em sistemas móveis de armazenamento de energia, tais como estações flexíveis de carga rápida ou robôs de carga móvel, por exemplo.
O processo inovador e redutor de CO2 não exige a fundição em alto-forno, com alto consumo de energia. Os sistemas de baterias usados são entregues completamente descarregados e desmontados. As peças individuais são moídas até formar grânulos e, posteriormente, secadas. Além do alumínio, cobre e plásticos, o processo também inclui o valioso “pó preto”, que contém importantes matérias-primas para baterias, como o lítio, níquel, manganês e cobalto, assim como grafite. A separação e processamento das substâncias individuais por processos hidrometalúrgicos – utilizando águas e agentes químicos – é realizada subsequentemente por parceiros especializados.
A planta foi projetada para reciclar até 3.600 sistemas de baterias (1.500 toneladas) por ano durante a fase piloto. Mas a ideia do Grupo VW para o futuro é ampliar o sistema para trabalhar com quantidades maiores, ao mesmo tempo que o processo será constantemente otimizado.
Enquanto isso, outras fabricantes de carros também estão estudando sobre o assunto. A BMW, juntamente com uma empresa de reciclagem e uma fabricante de baterias, quer tornar possível 1 “ciclo de vida fechado” para as baterias de automóveis. A Nissan também construiu a sua própria fábrica de reciclagem de baterias no Japão. A Tesla, por exemplo, diz que usará baterias para abastecer de energia sua Gigafactory e pretende reciclar as células exauridas. A BYD, por sua vez, utiliza baterias em fim de vida útil para veículos em grandes acumuladores de energia estacionários, que terão funcionamento por muito mais tempo que os automóveis.
Poucos países, entretanto, estão se estruturando para reciclar essas baterias. Mas Europa e China já determinaram que essa tarefa caberá ao fabricante do veículo. Este pode contratar uma empresa para reaproveitar componentes dessas unidades em fim de carreira, mas ainda assim caberá aos governos uma fiscalização rigorosa quanto a isso.
A China por exemplo, é o maior mercado de reciclagem de baterias do mundo, porém, apenas equipamentos fabricados em seu território podem ser reciclados. Já a Bélgica tem o melhor sistema de reciclagem de lixo da Europa, sendo que 75% de todos os resíduos produzidos no país são reaproveitados. A reciclagem de eletrônicos realizada em território belga também é referência.
Infelizmente, o Brasil é o país com maior descarte de lixo eletrônico na América Latina, cerca de 1,5 mil toneladas por ano, e um dos maiores produtores de resíduos do mundo. Porém, apenas 2% de todo o lixo eletrônico no país é reciclado corretamente.