Descoberta surpreendente revela oceano subterrâneo preso em mineral raro a 640 km da superfície da Terra

Por trás das rochas mais profundas do manto terrestre, cientistas encontraram um oceano oculto, aprisionado em um mineral chamado ringwoodita. Localizado a 640 km abaixo da superfície, esse reservatório pode conter tanta água quanto todos os oceanos juntos. A descoberta revoluciona a compreensão sobre o ciclo hídrico da Terra e o papel da água nos processos geológicos internos, como subducção, derretimento de rochas e movimentos tectônicos.
Publicado por Maria Eduarda Peres em Onde Assistir dia 23/05/2025

O coração da Terra guarda mais do que magma e rochas incandescentes. Uma nova descoberta científica publicada na revista Nature revelou a existência de um vasto oceano subterrâneo escondido a aproximadamente 640 quilômetros abaixo da superfície terrestre. Mas, ao contrário do que imaginamos quando pensamos em oceanos, essa água não corre livre — ela está presa dentro de um mineral raro chamado ringwoodita.

Pontos Principais:

  • Cientistas descobriram um oceano escondido a 640 km de profundidade.
  • Água está contida em ringwoodita, mineral que armazena moléculas sob pressão.
  • Volume estimado é semelhante ao de todos os oceanos da superfície.
  • Dados sísmicos e processos de subducção confirmam a presença de derretimento.
A 640 km de profundidade, cientistas encontraram indícios de um oceano subterrâneo preso em rochas. A descoberta pode mudar a forma como entendemos a água no planeta. - reprodução / canva
A 640 km de profundidade, cientistas encontraram indícios de um oceano subterrâneo preso em rochas. A descoberta pode mudar a forma como entendemos a água no planeta. – reprodução / canva

A ringwoodita, encontrada no manto terrestre, possui uma estrutura cristalina capaz de armazenar moléculas de água, mesmo sob altíssimas temperaturas e pressões. Essa capacidade foi confirmada por experimentos laboratoriais, que mostraram que o mineral pode conter até 1% do seu peso em água. Parece pouco, mas considerando a imensidão do manto, o volume total pode ser equivalente a todos os oceanos da superfície.

Steve Jacobsen, um dos geofísicos responsáveis pelo estudo, aponta que a descoberta traz à tona uma nova perspectiva sobre o ciclo hídrico global. Terremotos e erupções vulcânicas seriam, então, expressões visíveis de processos subterrâneos onde a água presa na ringwoodita desempenha um papel fundamental.

Brandon Schmandt, outro pesquisador do estudo, reforça a relevância dos dados sísmicos captados pela rede USArray, nos Estados Unidos. Essa tecnologia permitiu visualizar regiões profundas com sinais de derretimento — algo raro e inesperado para essas profundidades. Esse fenômeno coincide com zonas de subducção, onde a água da ringwoodita pode estar sendo liberada.

Essa liberação de água no manto profundo é vista como um gatilho para o derretimento de rochas e movimentações tectônicas, impactando diretamente na superfície terrestre. A água age como um lubrificante que altera as propriedades das rochas, facilitando o fluxo e contribuindo para a convecção do manto.

A descoberta também reforça a ideia de que o ciclo da água da Terra não está restrito à superfície, atmosfera ou geleiras. Existe uma “quarta esfera hídrica” — uma troca constante entre superfície e profundezas — que redefine o entendimento geológico do planeta.

Do ponto de vista da origem da água, a presença desse oceano profundo levanta dúvidas sobre teorias antigas. Em vez de vinda de cometas, parte significativa da água terrestre pode ter sido formada junto com o planeta, ficando armazenada em minerais desde sua formação.

O impacto da descoberta vai além da ciência básica. Compreender como essa água influencia a atividade sísmica pode aprimorar modelos preditivos de terremotos e vulcões, além de fornecer pistas valiosas sobre como manter a habitabilidade em nosso planeta.

A ringwoodita passa a ocupar um papel central nas pesquisas geofísicas e geoquímicas. Seu potencial de armazenamento de água altera não apenas os mapas do ciclo hídrico, mas também as teorias sobre a formação da Terra e a dinâmica do seu interior.

Mais do que uma curiosidade científica, esse oceano escondido é um lembrete poderoso: muito do que acontece sob nossos pés permanece invisível, mas exerce influência direta sobre a vida na superfície.

Fonte:Correiobraziliense.