Como os vírus saltam de animais para humanos

Em geral, animais doentes não infectam humanos. Mas, quando isso acontece, essas infecções entre espécies, ou saltos virais de hospedeiros têm o potencial de produzir epidemias mortais. Então, como podem os patógenos de uma espécie infectar outra, e o que torna tão perigosos os saltos de hospedeiros?
Publicado em Saúde dia 10/12/2019 por Alan Corrêa

Em geral, animais doentes não infectam humanos. Mas, quando isso acontece, essas infecções entre espécies, ou saltos virais de hospedeiros têm o potencial de produzir epidemias mortais. Então, como podem os patógenos de uma espécie infectar outra, e o que torna tão perigosos os saltos de hospedeiros?

Saiba a resposta

Um caso que ocorreu em Maryland no Estados Unidos em 2017 intrigou muita gente. Na feira rural que acontecia naquele ano, estava premiando alguns porcos, que por sinal não pareciam estar muito bem. Agricultores que viram aqueles porcos disseram que ele estavam febris, com olhos inflamados e focinhos congestionados. Acontece que, enquanto as autoridades da feira se preocupavam com os porcos, o departamento de saúde de Maryland se preocupava com um grupo de visitantes doentes. Mais de 40 desses visitantes foram diagnosticados com gripe suína, mesmo sendo que poucas pessoas tiveram contato com os porcos, enquanto outros só passaram perto dos chiqueiros.

O problema é que os vírus são um tipo de parasita orgânico que infectam quase todas formas de vida. Mas para eles sobreviverem e se reproduzirem, devem passar por três etapas, são elas:

  • Contato com um hospedeiro suscetível;
  • Infecção e replicação;
  • Transmissão para outros indivíduos.

Vejamos um exemplo de como o vírus se hospeda, se evolui e por fim se torna transmissível.

Analisemos a gripe humana. Primeiro, o vírus da gripe encontra um novo hospedeiro e avança pelo seu trato respiratório. Isso não é tão difícil, mas, para sobreviver nesse novo corpo, o vírus tem de criar uma infecção antes de ser capturado e destruído pelo sistema imunológico. Para realizar essa tarefa, os vírus evoluíram interações específicas com sua espécie hospedeira. Os vírus da gripe humana são cobertos com proteínas adaptadas para se ligar com receptores correspondentes nas células respiratórias humanas. Uma vez dentro de uma célula, o vírus utiliza adaptações adicionais para se apropriar do sistema reprodutivo da célula hospedeira e replicar seu próprio material genético. Agora, o vírus só precisa suprimir ou evitar o sistema imunológico do hospedeiro tempo suficiente para se replicar em níveis suficientes e infectar mais células. Nesse ponto, a gripe pode ser transmitida para a próxima vítima através de qualquer transmissão de fluido corporal infectado.

Em uma feira rural em Maryland em 2017, os agricultores relataram porcos febris com olhos inflamados e focinhos congestionados. Enquanto os fazendeiros se preocupavam com os porcos, o departamento de saúde estava preocupado com um grupo de pessoas que passaram pela feira. Logo, 40 desses visitantes seriam diagnosticados com a gripe suína. Como os patógenos de uma espécie podem infectar outra, e o que torna esse salto tão perigoso? Ben Longdon explica
Em uma feira rural em Maryland em 2017, os agricultores relataram porcos febris com olhos inflamados e focinhos congestionados. Enquanto os fazendeiros se preocupavam com os porcos, o departamento de saúde estava preocupado com um grupo de pessoas que passaram pela feira. Logo, 40 desses visitantes seriam diagnosticados com a gripe suína. Como os patógenos de uma espécie podem infectar outra, e o que torna esse salto tão perigoso? Ben Longdon explica

“Os vírus são um tipo de parasita orgânico que infectam quase todas formas de vida. Para sobreviver e se reproduzir, eles devem passar por três etapas: contato com um hospedeiro suscetível, infecção e replicação, e transmissão para outros indivíduos. Como exemplo, vejamos a gripe humana. Primeiro, o vírus da gripe encontra um novo hospedeiro e avança pelo seu trato respiratório. Isso não é tão difícil, mas, para sobreviver nesse novo corpo, o vírus tem de criar uma infecção antes de ser capturado e destruído pelo sistema imunológico. Para realizar essa tarefa, os vírus evoluíram interações específicas com sua espécie hospedeira. Os vírus da gripe humana são cobertos com proteínas adaptadas para se ligar com receptores correspondentes nas células respiratórias humanas. Uma vez dentro duma célula, o vírus utiliza adaptações adicionais pra se apropriar do sistema reprodutivo da célula hospedeira e replicar seu próprio material genético. Agora, o vírus só precisa suprimir ou evitar o sistema imunológico do hospedeiro tempo suficiente para se replicar em níveis suficientes e infectar mais células. Nesse ponto, a gripe pode ser transmitida para a próxima vítima através de qualquer transmissão de fluido corporal infectado”, conta Ben Longdon.

A transmissão

Quando uma pessoa está infectado com algum tipo de vírus, ele pode facilmente, a partir de um simples espirro, por o vírus em contato com outra pessoa, animais de estimação ou até mesmo as plantas.

Os vírus estão constantemente encontrando novas espécies e tentando infectá-las. Geralmente, essa tentativa fracassa. Na maioria dos casos, a dissimilaridade genética entre os dois hospedeiros é grande demais. Um vírus que já está adaptado a infectar humanos não poderia migrar para uma célula de alface por exemplo. Mas há um número impressionante de vírus circulando no ambiente, todos com potencial para encontrar novos hospedeiros. E além dos vírus se reproduzirem rapidamente aos milhões, eles também tem a capacidade de desenvolver mutações aleatórias bem rápido.

Portanto, para um vírus adaptado a outro mamífero, infectar um ser humano não passa apenas de algumas mutações de sorte. Porém, um vírus adaptado aos chimpanzés, um dos nossos parentes genéticos mais próximos, poderia exigir quase nenhuma alteração. As chances de desenvolver essa genética destrutiva aumentam ao longo do tempo, tanto quanto se a nova espécie estiver intimamente relacionada ao hospedeiro usual do vírus.

Mas no fim, conclui-se que é preciso mais do que tempo e semelhança genética para um salto de hospedeiro ser bem-sucedido. Alguns vírus vêm equipados para facilmente infectar as células de um hospedeiro novo, mas são incapazes de escapar de uma resposta imune. Outros podem ter dificuldades para transmitir para novos hospedeiros. Por exemplo, eles podem fazer o sangue do hospedeiro contagioso, mas não sua saliva. No entanto, quando um salto de hospedeiro atinge o estágio de transmissão, o vírus se torna muito mais perigoso. Agora gestando dentro de dois hospedeiros, o patógeno tem duas vezes as chances de sofrer uma mutação em um vírus mais eficaz, e cada novo hospedeiro aumenta o potencial para uma epidemia completa.