O avanço dos carros elétricos no Brasil deixou de ser uma tendência distante e passou a ser um movimento palpável, que já modifica a dinâmica das concessionárias, das ruas e até dos planos das montadoras tradicionais. Nesse novo cenário, a BYD assumiu uma posição de protagonismo raramente vista em um segmento tão recente. Com seis modelos entre os dez elétricos mais vendidos do país em 2025, a marca chinesa transformou domínio tecnológico e eficiência industrial em liderança absoluta de mercado.

Segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), de janeiro a setembro deste ano foram emplacados 53.379 carros 100% elétricos no país, dos quais 40.183 pertencem à BYD. A diferença em relação às demais marcas mostra o tamanho da vantagem: Tesla, GWM e Volvo aparecem muito atrás, enquanto a Renault mantém presença apenas com o acessível Kwid E-Tech. O modelo mais vendido do ranking é o BYD Dolphin Mini, que sozinho responde por quase 40% das vendas de elétricos no Brasil.
O Dolphin Mini ilustra bem a estratégia da montadora. Desenvolvido sobre uma base simples, com motor elétrico dianteiro de 75 cv e torque de 13,8 kgfm, ele entrega autonomia de 280 km pelo ciclo do Inmetro. O foco não está em desempenho, mas em eficiência e praticidade urbana. O consumo energético equilibrado e o custo de manutenção reduzido tornaram o compacto uma alternativa real a hatches flex de entrada. O sucesso repetido — líder também em 2024 — indica que a BYD encontrou o ponto de equilíbrio entre preço e usabilidade, algo que rivais como GWM e Renault ainda buscam alcançar.
O domínio da marca não se limita ao Dolphin Mini. Modelos como o Dolphin Plus, o Yuan Pro e o Seal reforçam a presença da BYD em diferentes faixas de preço. O Yuan Pro, por exemplo, aposta em formato SUV compacto com motor de 136 cv e autonomia de 400 km, mirando diretamente o GWM Ora 03. Já o Seal, com tração traseira e potência superior a 300 cv, posiciona-se como alternativa mais acessível a sedãs elétricos premium como o Tesla Model 3 e o BMW i4. Essa amplitude de catálogo permite que a empresa capture públicos distintos sem perder escala de produção.
Parte desse resultado vem da estratégia modular. A BYD utiliza plataformas compartilhadas e componentes padronizados, reduzindo custos de fabricação e tempo de desenvolvimento. Esse modelo industrial, aliado à nacionalização parcial de alguns veículos, mantém estoques estáveis e entrega rápida ao consumidor — um contraste com marcas que ainda dependem totalmente da importação. O processo de montagem local, previsto para ganhar força com a fábrica da Bahia, tende a consolidar a presença da empresa no país e a impulsionar novos lançamentos.
Entre os concorrentes, poucos conseguem acompanhar o ritmo. A Volvo mantém o EX30 Ultra como o elétrico premium mais vendido, sustentado pela reputação de segurança e qualidade, mas sem volume expressivo. A GWM aparece com os Ora 03 Skin e GT, que chamam atenção pelo design e proposta jovial, embora enfrentem limitação de rede e preço elevado. A Renault tenta resistir com o Kwid E-Tech, o mais barato do segmento, mas a autonomia de 185 km restringe seu alcance fora dos grandes centros urbanos.
O impacto da BYD vai além das tabelas de vendas. A marca conseguiu superar o preconceito inicial com carros chineses, investindo em pós-venda robusto, revisões simplificadas e atualizações remotas de software. O padrão de atendimento e garantia, aliado ao suporte técnico das concessionárias, tem sido determinante para fidelizar consumidores. Essa confiança, construída em pouco tempo, reforça a imagem de confiabilidade — um valor essencial em um segmento onde o desconhecimento tecnológico ainda gera dúvidas.
O contexto nacional também favorece o crescimento. Estados como São Paulo e Paraná oferecem incentivos fiscais, e a expansão da infraestrutura de recarga começa a dar mais liberdade de uso aos motoristas. A queda gradual no custo das baterias e a chegada de novos players prometem ampliar a concorrência, mas, por enquanto, o domínio da BYD é técnico e comercial.
O resultado é um retrato claro de uma transição em curso. O carro elétrico deixou de ser símbolo de luxo e passou a ocupar espaço prático na rotina urbana. Modelos como o Dolphin Mini mostram que a mobilidade elétrica pode ser acessível e funcional, enquanto a estrutura industrial da BYD redefine padrões de eficiência. No Brasil de 2025, a eletrificação não é mais promessa: é realidade conduzida por uma marca que aprendeu a transformar escala, preço e tecnologia em vantagem competitiva duradoura.
Fonte: CNN.
