Um céu limpo e estrelado costuma provocar reações distintas em quem observa. Para alguns, é sinal de contemplação e silêncio. Para outros, é o ponto de partida para uma pergunta que persiste há gerações: estamos sozinhos no universo? O cenário pode parecer romântico, mas a ciência há tempos busca dar números concretos a essa dúvida.
Pontos Principais:
Hoje sabemos que o que vemos a olho nu representa menos de 1% da Via Láctea. Estimativas apontam que essa galáxia pode conter entre 100 e 400 bilhões de estrelas, e o universo observável ultrapassaria dois trilhões de galáxias. Com isso, a quantidade de estrelas existentes poderia alcançar a ordem de 10²³.
Se cerca de 20% dessas estrelas forem parecidas com o Sol e, dessas, 22% tiverem planetas semelhantes à Terra, isso implicaria que cerca de 1% de todas as estrelas do universo possuam um planeta como o nosso. Ainda assim, nenhuma civilização entrou em contato conosco até agora.

Considerando que 1% de planetas similares à Terra possam desenvolver vida inteligente, teríamos até 10 quadrilhões de civilizações espalhadas pelo universo observável. Na Via Láctea, esse número seria em torno de 100 mil civilizações. Ainda assim, o total de sinais recebidos pela humanidade até o momento é zero.
Desde 1985, o projeto SETI tenta identificar mensagens enviadas por essas possíveis civilizações. A metodologia utilizada, em sua maioria, baseia-se em ondas de rádio, uma tecnologia que pode não ser mais utilizada por sociedades muito avançadas. Isso levanta a possibilidade de que, mesmo que haja tentativas de comunicação, nossa tecnologia atual não seja capaz de detectar.
Também é possível que essas civilizações tenham surgido e desaparecido em janelas temporais diferentes da nossa, ou que a distância entre elas e a Terra inviabilize qualquer contato. O atraso de tempo envolvido em comunicações interestelares é outra limitação que precisa ser considerada.
Para classificar o grau de desenvolvimento de uma civilização, a Escala de Kardashev propõe três níveis principais:
A humanidade se encontra hoje no nível 0.7. Ainda não domina completamente a energia planetária. Mesmo com os avanços na matriz energética, como fontes renováveis e eficiência tecnológica, estamos distantes do tipo 1. Para alcançar o tipo 2, seriam necessários projetos como a Esfera de Dyson, uma megaconstrução hipotética capaz de captar toda a energia de uma estrela.
Se civilizações do tipo 3 existem, é provável que tenham capacidades de comunicação e locomoção além de nossa compreensão. Mesmo que estejam nos observando, podem considerar que não vale a pena estabelecer contato com uma sociedade tecnicamente inferior.
O paradoxo de Fermi surge da contradição entre a alta probabilidade de existência de vida inteligente e a completa ausência de evidências dessa vida. Uma das explicações mais debatidas é a hipótese do grande filtro.
Essa hipótese propõe que exista uma barreira extremamente difícil de ser superada no caminho evolutivo de uma civilização rumo ao tipo 3. O filtro pode estar no passado (e já o superamos), no presente (estamos enfrentando-o agora), ou no futuro (ainda vamos colidir com ele).
Se já passamos pelo grande filtro, então somos raros. Se ainda não o enfrentamos, há um risco elevado de não conseguirmos superá-lo. Isso explicaria por que outras civilizações também não conseguiram se tornar do tipo 2 ou 3.
Outra hipótese plausível é que civilizações mais antigas tenham tentado se desenvolver em períodos do universo em que as condições eram mais hostis. Explosões de supernovas, radiação cósmica intensa ou eventos catastróficos poderiam ter impedido a evolução de formas de vida complexas.
Além disso, a limitação pode ser exclusivamente nossa. A humanidade possui registro histórico há apenas 5.500 anos e tecnologia espacial há menos de um século. Comparado ao tempo de existência da Terra (4,54 bilhões de anos), somos recém-chegados.
Por isso, é possível que existam comunicações ocorrendo neste exato momento em frequências, formatos ou tecnologias que não conseguimos acessar ou sequer imaginar. A analogia com um animal doméstico é útil: mesmo que sejamos observados por civilizações avançadas, nossa capacidade de compreender o que estão fazendo pode ser inexistente.

Não há evidência concreta de que estamos sozinhos, apenas silêncio. E o silêncio pode ser resultado de distâncias intransponíveis, janelas temporais incompatíveis ou limites tecnológicos.
É possível que civilizações mais avançadas tenham estabelecido protocolos de não interferência, evitando qualquer tipo de contato até que um certo nível de maturidade seja atingido. Essa possibilidade não pode ser descartada.
Ao mesmo tempo, não é possível ignorar o risco de que o grande filtro esteja à nossa frente. Se ele representar uma barreira como guerras interestelares, colapsos ecológicos ou esgotamento de recursos, talvez estejamos apenas caminhando em direção ao mesmo fim de todas as outras.
A ausência de contato com vida inteligente não encerra a busca, apenas intensifica as dúvidas. Cada nova descoberta astronômica amplia as estimativas, mas não resolve o paradoxo. Continuamos tentando, escutando, enviando sinais.
É possível que civilizações do tipo 3 estejam nos observando agora mesmo, aguardando o momento certo para iniciar o contato. Ou talvez, a resposta mais simples continue válida: estamos sós, por enquanto.
O universo é vasto, dinâmico e indiferente. A jornada para compreender nosso lugar nele está apenas começando.
Fonte: Waitbutwhy, Wikipedia e Science.