O Chery Fulwin X3L virou manchete mundial ao tentar o impossível. A marca colocou seu SUV híbrido para escalar os 999 degraus da Escada do Céu, na China, e viu a manobra se transformar em caos.
O carro perdeu tração, escorregou, danificou o monumento e forçou o fechamento de um dos pontos turísticos mais famosos do país. Para quem assiste de longe, parece um tropeço pontual. Para a indústria, é um alerta sobre marketing arriscado.
A aposta da Chery era clara. Repetir o show que o Range Rover Sport entregou em 2018, quando subiu a Escada do Céu com tração impecável e aquele torque que parece colar o carro no solo. Só que a equação da Chery tinha uma variável sensível demais, e ela estourou.
A marca culpa uma corda de segurança que teria enroscado na roda dianteira. Testemunhas dizem que o SUV ficou parado por duas horas após acertar o guarda corpo.
A repercussão foi instantânea. E não pela ousadia, mas pela falta de cálculo.
A ficha do Fulwin X3L impressiona no papel. Motor 1.5 turbo para alimentar as baterias, dois motores elétricos com 422 cv e 51,5 kgfm. Em linha reta, sobra força. Em degraus de inclinação variável, a física muda de figura.
O teste real expôs que potência não resolve tudo quando o carro depende de cabos e pontos de ancoragem.
A Escada do Céu não é apenas íngreme. Ela muda de inclinação no meio da subida. A transição cria uma zona crítica em que o SUV precisa redistribuir peso em milissegundos. Qualquer atraso, qualquer interferência externa, vira catapulta.
A tentativa da Chery só ganhou escala porque o Range Rover Sport, com menos potência nominal, já havia feito o mesmo desafio com maestria. A JLR executou a subida com meses de planejamento, múltiplos testes e pilotos treinados para lidar com terreno extremo.
A Chery admitiu falhas no planejamento, assumiu o erro e prometeu pagar pelos danos. O público entendeu a mensagem. Ambição sem preparação vira manchete pelos motivos errados.
A corrida das montadoras chinesas por visibilidade global tem gerado movimentos ousados. Alguns dão certo e constroem reputação. Outros, como esse, expõem os limites de transformar um SUV híbrido em peça de espetáculo.
O incidente servirá como divisor interno nas empresas que apostam em viralizar feitos extremos. Os consumidores, cada vez mais atentos, querem performance real, não acrobacia para câmera. A frase que fica ecoando no setor é simples e incômoda: subir degraus é opcional, cair deles não.
Fonte: AutoEsporte e QuatroRodas.
