A possível mudança no uniforme da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2026 reacendeu discussões sobre tradição, identidade nacional e os limites entre marketing esportivo e símbolos nacionais. A substituição da tradicional camisa azul por um novo modelo vermelho com detalhes pretos ganhou força após informações divulgadas pelo site Footy Headlines. A peça, ainda não oficializada pela CBF ou pela Nike, teria como proposta unir a estética esportiva à moda de rua, com desenvolvimento assinado pela linha Jordan, subsidiária da Nike.
Pontos Principais:
A revelação provocou reação imediata em diferentes esferas. Entre políticos, foram apresentados projetos de lei na Câmara dos Deputados para impedir o uso de cores fora do conjunto da bandeira nacional. Deputados de partidos como PL e MDB protocolaram propostas que exigem que os uniformes da Seleção obedeçam exclusivamente às cores verde, amarelo, azul ou branco. Eles alegam que a camisa vermelha representaria um desrespeito aos símbolos do país e poderia comprometer a unidade e o reconhecimento internacional da Seleção Brasileira.
A questão também foi debatida por comentaristas esportivos e ex-atletas. O ex-lateral Michel Bastos, que participou da Copa do Mundo de 2010, afirmou que, embora a mudança possa ter apelo de mercado, ela chega em um momento inadequado, dada a instabilidade da equipe brasileira nas eliminatórias e o desgaste com a torcida. Segundo ele, modificar um dos elementos mais simbólicos da Seleção, como o uniforme, em meio a uma fase delicada, poderia intensificar críticas e descontentamentos já existentes.

O uso de um uniforme vermelho encontra respaldo parcial no próprio estatuto da Confederação Brasileira de Futebol. O artigo 13, que trata dos símbolos da CBF, determina que os uniformes devem conter o emblema oficial da entidade e seguir as cores presentes em sua bandeira, que incluem azul, verde, amarelo e branco. No entanto, o texto também prevê exceções. Modelos comemorativos podem ser desenvolvidos em cores diferentes, desde que autorizados pela Diretoria da entidade.
Esse trecho do regulamento não especifica quais seriam os critérios para a liberação de modelos comemorativos nem se há limitações de frequência para esse tipo de ação. Em 2023, por exemplo, a Seleção entrou em campo com um uniforme preto no amistoso contra Guiné, como parte de uma campanha antirracismo. Na ocasião, o gesto foi simbólico e acompanhado de outras ações durante a partida, como o ajoelhamento dos jogadores após o apito inicial.
Segundo especialistas em direito esportivo, o estatuto oferece margem interpretativa suficiente para permitir a adoção da camisa vermelha, desde que aprovada internamente pela diretoria da CBF. Contudo, a ausência de confirmação oficial por parte da entidade mantém o tema cercado de incertezas, ainda que as imagens vazadas apontem para um lançamento em março de 2026, já em preparação para o Mundial.

Embora pareça inédita, a ideia de um uniforme da Seleção em vermelho já tem precedentes. Em 1917, durante o Campeonato Sul-Americano, o Brasil precisou abrir mão da camisa branca porque Chile e Uruguai, seus adversários na época, também utilizavam a mesma cor. Um sorteio determinou que o time brasileiro usaria um uniforme vermelho em duas partidas: uma derrota por 4 a 0 contra o Uruguai e uma vitória de 5 a 0 contra o Chile.
Outro episódio semelhante ocorreu quase vinte anos depois, em 1936, também em um Sul-Americano. Diante do Peru, que também utilizava branco, a Seleção se viu obrigada a improvisar e entrou em campo com o uniforme emprestado do Independiente, tradicional clube argentino conhecido pelo vermelho. O Brasil venceu o jogo por 3 a 2, e o episódio passou a integrar o folclore da camisa nacional.
Apesar desses registros históricos, nunca houve até hoje uma camisa oficial vermelha lançada pela CBF com finalidade comercial ou simbólica. A eventual adoção do modelo para a Copa de 2026 quebraria, portanto, uma sequência de 68 anos em que o uniforme reserva da Seleção foi azul, tradição que se iniciou na Copa de 1958, após a troca do branco pelo amarelo como uniforme principal, em resposta à derrota para o Uruguai em 1950.
A notícia do uniforme vermelho extrapolou o campo esportivo e chegou ao Congresso Nacional. Quatro projetos de lei foram protocolados por deputados federais, com o objetivo de impedir legalmente o uso da nova camisa. Eles argumentam que os uniformes da Seleção devem preservar os símbolos da bandeira brasileira, não sendo aceitável a introdução de cores alheias à identidade nacional.
O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) afirmou que a proposta visa assegurar a representação fiel do país em eventos internacionais e manter o respeito às tradições. Para os autores das propostas, o vermelho possui conotação ideológica que poderia gerar interpretações políticas indesejadas, embora a escolha da cor tenha sido justificada apenas como uma estratégia de marketing e reposicionamento da marca.
Em meio à controvérsia, a CBF ainda não se manifestou oficialmente. Já a Nike, até o momento, tampouco confirmou a produção do uniforme pela Jordan. A ausência de esclarecimentos contribui para que o debate continue alimentando especulações e gerando manifestações públicas por parte de ex-jogadores, jornalistas e torcedores, especialmente em redes sociais.
O possível envolvimento da Jordan na criação do uniforme vermelho representa uma movimentação estratégica. A marca, ligada à figura de Michael Jordan, tem grande apelo entre públicos mais jovens e é referência em produtos que unem moda e performance. A entrada da Jordan no universo do futebol através da Seleção Brasileira pode sinalizar uma tentativa de reposicionamento global da camisa verde-amarela.
Caso confirmada, essa parceria se alinha a uma tendência internacional em que uniformes ganham status de peça de moda e consumo, indo além do campo de jogo. Em diversas seleções e clubes, camisas são criadas não apenas para atender exigências técnicas, mas também para atrair nichos específicos de mercado, influenciando diretamente nas vendas e na imagem institucional das federações e empresas envolvidas.
Apesar disso, parte da imprensa e da comunidade esportiva vê com desconfiança a priorização de estratégias de marketing em detrimento de símbolos históricos. A escolha por romper com o padrão azul, principalmente em um ciclo de desempenho fraco da equipe brasileira, levanta dúvidas sobre o impacto que uma medida visual pode causar em um momento já considerado delicado para o time.
Fonte: Nsctotal, UOL, CNN e G1.
