O ex-presidente Jair Bolsonaro segue no centro de uma controvérsia jurídica envolvendo o descumprimento de medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em decisão recente, o ministro Alexandre de Moraes analisou os argumentos da defesa e concluiu que houve violação de uma das condições determinadas anteriormente. Apesar disso, a prisão preventiva foi descartada por se tratar, segundo o ministro, de uma infração pontual. A advertência, no entanto, foi clara: qualquer reincidência resultará em prisão imediata.
Pontos Principais:
O episódio gira em torno da divulgação, nas redes sociais de Eduardo Bolsonaro, de um discurso do ex-presidente feito logo após uma visita ao Congresso Nacional. A publicação, considerada coordenada, contrariaria a proibição imposta pelo STF de uso direto ou indireto das redes sociais por parte de Jair Bolsonaro. A situação provocou reação do ministro, que reforçou a gravidade de eventuais burlas ao que foi judicialmente estabelecido.
Desde 18 de julho de 2025, Bolsonaro está submetido a medidas cautelares restritivas. Entre elas estão o uso de tornozeleira eletrônica, o recolhimento domiciliar em horários determinados e a proibição de contato com investigados nos inquéritos em andamento. A decisão de Moraes foi confirmada por maioria na Primeira Turma do STF, que compreendeu haver risco de obstrução à Justiça e possível tentativa de interferência externa no andamento dos processos.

O ministro Alexandre de Moraes decidiu não converter em prisão preventiva o descumprimento apontado no caso. Para o magistrado, a violação do uso de redes sociais — ainda que por meio de terceiros — se configurou, sim, como um ato ilícito, mas isolado. A avaliação levou em conta a ausência de outros episódios semelhantes e os argumentos apresentados pela defesa.
Na avaliação do STF, a postagem feita por Eduardo Bolsonaro em sua rede social logo após o pai conceder declarações públicas representa tentativa de burlar a determinação judicial. Mesmo sem envolvimento direto do ex-presidente na postagem, o contexto de coordenação entre os investigados e a natureza do conteúdo foram considerados suficientes para caracterizar descumprimento.
O ministro destacou que o uso de redes de terceiros para amplificar mensagens ou discursos previamente planejados representa prática semelhante às “milícias digitais”, grupo que é alvo de outro inquérito na Corte. Moraes foi enfático ao afirmar que a Justiça brasileira não aceitará estratégias que visem deslegitimar suas decisões por vias indiretas.
Jair Bolsonaro deve cumprir uma série de restrições impostas pelo STF, com o objetivo de garantir a ordem pública e o regular andamento das investigações em curso. Essas medidas foram adotadas com base em indícios de que ele e outros envolvidos buscavam pressionar instituições brasileiras por meio de articulações políticas no exterior.
As medidas incluem:
A Primeira Turma do STF confirmou a decisão de Moraes por quatro votos a um, com os ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin acompanhando o relator. O ministro Luiz Fux foi o único a divergir, entendendo não haver risco imediato de fuga.
As declarações de Bolsonaro e a sua aparição pública com tornozeleira eletrônica causaram reações diversas entre aliados e opositores. A defesa do ex-presidente afirmou que não houve intenção de desrespeitar as medidas cautelares e que ele estaria cumprindo rigorosamente as regras impostas desde a última decisão do STF.
Apesar disso, a reincidência no uso indireto das redes foi fortemente questionada. Moraes determinou que o uso coordenado de mídias sociais para publicar discursos, mesmo sem a ação direta de Bolsonaro, pode ser interpretado como estratégia de comunicação irregular. O ministro comparou essa conduta a práticas de lavagem de dinheiro, onde o uso de terceiros é deliberadamente planejado para mascarar ações ilícitas.
A defesa apresentou embargos de declaração, alegando que Bolsonaro não pode ser responsabilizado por atos de terceiros. Entretanto, Moraes argumentou que a repetição do padrão de comportamento, com transmissões feitas sempre após atos públicos, revela intencionalidade e risco de reincidência.
A crise se aprofundou quando o governo norte-americano, sob Donald Trump, impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. A justificativa, anunciada nas redes sociais por autoridades dos EUA, foi a alegada perseguição contra Jair Bolsonaro e seus aliados por parte do Judiciário brasileiro.
O episódio gerou reações diplomáticas, especialmente após o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, declarar publicamente apoio a Bolsonaro e questionar a condução dos processos pelo STF. Autoridades brasileiras consideraram a medida uma tentativa de ingerência em assuntos internos e um atentado à soberania nacional.
Além da questão comercial, Bolsonaro e Eduardo são investigados por articularem com figuras internacionais para obter sanções contra ministros do STF e influenciar o andamento das investigações. A Polícia Federal aponta que o ex-presidente teria enviado R$ 2 milhões, arrecadados em campanhas de apoio, para manter Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, com a finalidade de continuar esse tipo de articulação política.

O ministro Alexandre de Moraes reiterou que Bolsonaro pode conceder entrevistas ou falar publicamente, desde que respeite os horários do recolhimento e não se utilize de estratégias para burlar as medidas restritivas. A limitação está na reprodução coordenada desses discursos em redes sociais, o que é considerado uma violação direta das condições impostas.
Caso ocorra novo episódio semelhante, Moraes adiantou que a conversão das medidas cautelares em prisão preventiva será imediata. A advertência teve como objetivo impedir que a atual liberdade vigiada do ex-presidente seja usada como instrumento político de mobilização ou manipulação de opinião pública.
As medidas seguem em vigor por tempo indeterminado e poderão ser reavaliadas conforme o andamento dos inquéritos e o comportamento do investigado.
Fonte: UOL, Agenciabrasil e Bbc.