Ao longo da história, as pessoa têm associado o coração como o símbolo da vida emocional, considerado por muitos o centro da alma, o repositório das emoções. No entanto, essa ligação é real, as emoções têm um efeito físico direto no coração humano.
Não há quem não use o símbolo do coração para representar o amor hoje em dia, o chamado coração metafórico, e ao longo do tempo, as figuras passaram a ser pintadas de vermelho, a cor do sangue, um símbolo da paixão. Na Igreja Católica romana, a figura do coração se tornou conhecida como Sagrado Coração de Jesus. Adornada com espinhos e emitindo uma luz etérea, se tornou uma insígnia do amor monástico. Essa associação entre o coração e o amor vem tomando força na modernidade.
De forma misteriosa nossas emoções impactam a saúde do nosso coração, levando-o a mudar de formato em resposta à angústia ou ao medo e a literalmente se partir em resposta à angústia emocional.
O coração, diretamente, não é a fonte do amor ou de outras emoções, necessariamente, mas é claro que existe uma conexão extremamente íntima entre o coração e as emoções.
“O coração pode não ser a fonte dos nossos sentimentos, mas é intensamente sensível a eles.” Disse o cardiologista e autor Sandeep Jauhar, em uma palestra TED de julho de 2019.
De certo modo, o medo e a tristeza, podem causar profundo dano cardíaco. Os nervos que controlam processos inconscientes, como o batimento cardíaco, podem sentir a aflição e desencadear uma reação inadequada de fuga ou luta que faz os vasos sanguíneos se retraírem, o coração se acelerar e a pressão sanguínea subir, causando danos.
Portanto, pode-se dizer que, mesmo que as emoções não estejam contidas no coração, o coração emocional coincide em parte com seu equivalente biológico, de formas surpreendentes e misteriosas.
Há uma doença que altera o forma do coração, chamada de “cardiomiopatia de takotsubo”, ou melhor, “síndrome do coração partido”, na qual o coração se enfraquece gravemente em reação a forte estresse ou sofrimento, como o fim de um relacionamento ou a morte de um ente querido. O takotsubo é um vaso japonês com base larga e gargalo estreito, ele se refere a síndrome do coração partido porque o coração infla até se parecer distintamente com um takotsubo.
A morte por luto tem sido observada em cônjuges e irmãos. Corações partidos são mortais literal e figurativamente. Essas associações são válidas até para animais.
“Atualmente, os cuidados com o coração deixaram de ser uma área dos filósofos, que refletem sobre o significado metafórico do coração, e se tornaram a esfera de médicos como eu, empregando tecnologias que, até mesmo um século atrás, devido ao status elevado do coração na cultura humana, eram consideradas tabu. Nesse processo, o coração foi transformado de objeto quase sobrenatural impregnado de metáforas e significados a uma máquina que pode ser manipulada e controlada. Mas esse é o elemento crucial: percebemos agora que essas manipulações devem ser acompanhadas pela atenção à vida emocional que, por milhares de anos, acreditou-se que o coração controlava.” Contou Sandeep Jauhar.
Apesar de tudo, correlação não prova causalidade. Há quem diga que o estresse leve a hábitos pouco saudáveis e que essa seja a verdadeira razão para o maior risco cardiovascular. A Associação Americana do Coração continua não listando o estresse emocional como um fator modificável de risco decisivo para doenças cardíacas, mas isso deve ser porque seja muito mais fácil diminuir o colesterol no sangue do que as interferências emocionais ou sociais.
O fato é que, a expressão “coração partido”, pode às vezes se referir a um coração partido de verdade. É preciso prestar mais atenção ao poder e à importância das emoções, para não alterar o coração e causar danos.
“Eu descobri que o estresse emocional é muitas vezes questão de vida ou morte.” Finaliza o cardiologista Sandeep Jauhar.