A aprovação do medicamento Kisunla (donanemabe) pela Anvisa marca um divisor de águas no tratamento do Alzheimer no Brasil. Desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, o remédio atua diretamente na remoção de placas beta-amiloides no cérebro e já era utilizado nos Estados Unidos desde 2024. Sua chegada ao país reacende o debate sobre terapias para demência, mas também levanta questões sobre eficácia, custo e acessibilidade.
Pontos Principais:
Médicos comemoram o avanço. Mychael Lourenço, da UFRJ e Academia Brasileira de Ciências, destaca que este é o remédio mais atual disponível, voltado especificamente para os estágios iniciais da doença. Nos testes clínicos, após 76 semanas de uso, o medicamento mostrou redução no avanço da demência em pacientes com comprometimento cognitivo leve.
Entretanto, os especialistas alertam que o uso do Kisunla tem escopo bastante restrito. Ele não apresenta benefícios expressivos em casos moderados ou graves de Alzheimer, e sua ação se limita a desacelerar a progressão da perda cognitiva. A promessa de reversão dos sintomas ainda não é realidade com esse tipo de terapia.
Além da limitação clínica, os custos e exigências técnicas do tratamento são altos. O uso do medicamento exige exames complexos, como testes genéticos e PET amiloide, nem sempre acessíveis à maioria da população. E o valor do remédio é outro impeditivo: nos EUA, custa cerca de US$ 32 mil por ano, o que equivale a mais de R$ 150 mil.
Eduardo Zimmer, da UFRGS, relembra que até medicamentos mais acessíveis, como a memantina, demoraram seis anos para entrar no SUS. Assim, apesar da aprovação, o acesso ao Kisunla deve demorar e ficar restrito à rede privada por enquanto.
Há também riscos associados ao tratamento. Efeitos colaterais podem ir de dor de cabeça a sangramentos cerebrais e até morte, o que exige acompanhamento rigoroso. Por isso, o uso será limitado a pacientes que atendam critérios específicos, aumentando ainda mais a necessidade de diagnósticos precoces.
Para especialistas, o momento é de reforçar a importância da prevenção. Paulo Caramelli, da UFMG, lembra que 60% dos casos de demência podem ser evitados com controle de fatores como hipertensão, sedentarismo e dieta inadequada. Enquanto o tratamento avança, os cuidados preventivos ainda são a melhor aposta da população.
Fonte: Agenciabrasil, Gov, G1, CNN e Folha.