No terceiro dia do julgamento da chamada trama golpista, o Supremo Tribunal Federal foi palco de um episódio que evidenciou fissuras internas entre seus integrantes. Alexandre de Moraes, relator do processo, iniciou a leitura de seu voto, mas foi interrompido por Luiz Fux, que questionou a forma de análise das preliminares. A cena ocorreu poucos minutos após o início da sessão, e marcou a primeira divergência explícita entre os dois magistrados.
A intervenção de Fux trouxe à tona sua posição já conhecida de que o caso deveria ter sido analisado pelo plenário do STF e não pela Primeira Turma. Ele afirmou que manteria a coerência com votos anteriores, nos quais havia ficado vencido, ressaltando que voltaria a tratar do tema no momento adequado. A postura evidenciou não apenas um debate técnico, mas também o incômodo com a condução da relatoria.

Moraes, ao retomar a palavra, buscou reforçar que todas as preliminares até então mencionadas haviam sido afastadas por unanimidade, inclusive com o voto de Fux, embora este tenha contestado a lembrança ao afirmar que se tratava apenas do recebimento da denúncia. A troca de falas foi suficiente para expor a fragilidade de um consenso que, até aquele momento, parecia consolidado.
Outro momento de atrito surgiu quando Flávio Dino pediu um aparte durante a leitura do voto de Moraes. O relator autorizou a intervenção, mas Fux reagiu, lembrando que havia sido feito um acordo prévio entre os integrantes da Primeira Turma para evitar interrupções nos votos. Mesmo reconhecendo a pertinência da fala de Dino, deixou claro seu desconforto com a quebra do combinado.
Dino, por sua vez, buscou suavizar a tensão e garantiu que não repetiria o gesto durante o voto de Fux. Apesar da resposta cordial, o episódio reforçou a percepção de que a sessão caminhava em um terreno delicado, onde divergências regimentais e interpretações jurídicas se misturam a disputas políticas que atravessam a corte.
O julgamento, que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e auxiliares acusados de conspirar contra a democracia, já se desenhava como um dos mais complexos da história recente do tribunal. A lista de acusações inclui tentativa de golpe de Estado, organização criminosa e outros crimes correlatos. O peso político e simbólico do processo torna cada gesto e cada divergência ainda mais visíveis aos olhos da opinião pública.
O embate entre Moraes e Fux, ainda que em torno de questões processuais, acaba adquirindo dimensão maior diante do contexto. A cena não apenas revelou diferenças de interpretação jurídica, mas também evidenciou o desafio de manter coesão institucional em meio a um julgamento que, inevitavelmente, coloca o STF no centro da disputa política nacional e internacional.
