Publicado em 19/07/2021 por Alan Corrêa
Um samurai é encontrado em um tranquilo bosque de bambu. Uma a uma, as únicas testemunhas conhecidas do crime contam suas versões dos eventos que ocorreram.
Conforme cada uma delas conta sua história, fica evidente que cada um dos testemunhos é plausível, mas diferente dos demais, e cada testemunha compromete a si mesma.
No início dos anos de 1920, o escritor japonês Ryunosuke Akutagawa, publicou um conto chamado “Dentro do bosque”. Em 1950, o cineasta japonês Akira Kurosawa adaptou duas histórias de Akutagawa em um único filme chamado Rashomon.
O efeito Rashomon se caracteriza como uma narrativa que apresenta diversos pontos de vista contraditórios sobre o mesmo assunto, que convergem para um final inconclusivo. O efeito Rashomon normalmente ocorre sob duas condições específicas.
1: não há evidências que comprovem o que de fato aconteceu.
2: há uma pressão pela conclusão, geralmente por parte de uma autoridade tentando chegar à verdade definitiva.
Neurocientistas, descobriram que, quando formamos uma memória, nossa interpretação de informações visuais é influenciada por nossas experiências anteriores e vieses pessoais, alguns vieses são únicos, mas outros são mais universais. Por exemplo, o viés egocêntrico pode influenciar as pessoas a reformularem suas memórias de forma a lançar uma luz positiva sobre suas ações.
Mesmo capazes de guardar uma memória com precisão, lembra-se dela junta novas informações que modificam a memória. E, quando nos lembramos depois, geralmente lembramos um pouco diferente da experiência original.
Esses fenômenos significam que o efeito Rashomon pode aparecer em qualquer área. Na biologia, cientistas começando com o mesmo conjunto de dados e aplicando os mesmos métodos analíticos normalmente publicam resultados diferentes.
Um caso famoso, dois antropólogos visitaram a cidade mexicana de Tepoztlán. O primeiro pesquisador descreveu a vida local como feliz e satisfeita, enquanto o segundo registrou os residentes como paranoicos e descontentes.
Será que há situações em que uma “verdade objetiva” não exista? O que versões diferentes sobre um mesmo evento podem nos dizer sobre o momento, local e as pessoas envolvidas? E como podemos tomar decisões em grupo se estamos todos trabalhando com vieses, informações e vivências diferentes?
Como a maioria das perguntas, essas não têm respostas definitivas. Talvez seja importante aceitarmos a ambiguidade.