Quase 40% dos estudantes brasileiros do 4º ano do ensino fundamental não possuem habilidades básicas de leitura, o que significa que enfrentam dificuldades em compreender e reproduzir informações presentes nos textos. Esses dados são provenientes do Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS) de 2021, realizado em 65 países e regiões pela Associação Internacional para Avaliação do Desempenho Educacional (IEA). O objetivo do estudo é avaliar as habilidades de leitura dos alunos matriculados no 4º ano.
É importante ressaltar que, nessa etapa da trajetória escolar, espera-se que os estudantes já tenham adquirido a capacidade de leitura, a qual é fundamental para o desenvolvimento de novas aprendizagens. No entanto, no Brasil, esse domínio é identificado em apenas 62% dos alunos, enquanto em outros 21 países o percentual de estudantes com dificuldades de leitura não ultrapassa 5%. Entre esses países, destacam-se a Irlanda (2%), Finlândia (4%), Inglaterra (3%), Singapura (3%) e Espanha (5%).
O relatório do estudo também revela que aproximadamente 24% dos alunos brasileiros possuem apenas habilidades básicas de leitura. Apenas 13% dos avaliados no país são considerados proficientes em compreensão de leitura no 4º ano, ou seja, alcançaram um nível elevado ou avançado nessas habilidades. Esses dados indicam a necessidade de medidas e investimentos na área educacional brasileira para melhorar a formação dos alunos em leitura e garantir que eles adquiram as habilidades necessárias para o sucesso acadêmico e pessoal.
De acordo com o PIRLS 2021, um estudo internacional, o Brasil demonstrou um baixo desempenho em relação à qualidade da leitura, além de apresentar desigualdades no sistema educacional que estão associadas às origens socioeconômicas dos estudantes, ao sexo e à cor.
No contexto brasileiro, o levantamento revelou que as meninas obtiveram um desempenho superior na compreensão leitora, com uma média de 431 pontos, em comparação com a média dos meninos, que foi de 408 pontos. Além disso, os estudantes autodeclarados brancos e amarelos apresentaram uma média de desempenho de 457 pontos, enquanto os estudantes pretos, pardos e indígenas alcançaram uma estimativa pontual média de 399 pontos.
Ernesto Martins, diretor do Iede, fez uma comparação entre a avaliação internacional do PIRLS e as avaliações nacionais conduzidas pelo Inep, o Saeb e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Segundo Martins, as avaliações nacionais se concentram apenas em alguns aspectos específicos da educação básica no Brasil.
“Temos uma preocupação em relação ao Saeb ser pouco exigente. Se você comparar o Saeb com o PIRLS, por exemplo, não vê no Saeb textos tão longos como existem no PIRLS. Então, tem uma questão de complexidade diferente das avaliações”.
Para Martins, a solução passa por aumentar o nível de exigência das avaliações nacionais.
“Acho que o Saeb e Ideb trouxeram uma grande contribuição para a gente fazer um monitoramento maior das aprendizagens. Ajudou as escolas a garantirem habilidades básicas que antes não estavam sendo garantidas, mas a gente precisa puxar a barra da avaliação [para cima]. Porque tem uma avaliação externa dizendo que o Brasil está muito mal nos anos iniciais. E, ao mesmo tempo, há uma avaliação nacional que diz que os alunos vão muito bem. Tem um problema com a nossa régua”, conclui.
Em resposta, o Inep destacou o rigor técnico das avaliações nacionais e internacionais sob responsabilidade do instituto vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
“[As avaliações] têm características próprias, mas todas são realizadas com o rigor técnico necessário para garantir a fidedignidade da medida. O que se deve observar é que, de fato, o Saeb e o PIRLS avaliam públicos diferentes com metodologias diferentes. Mas não se verifica contradição entre os resultados. As informações são complementares e ajudam a entender melhor o cenário educacional, a fim de planejar intervenções mais eficientes para sanar as lacunas de aprendizagem identificadas”.
*Com informações do INEP e Agência Brasil.